terça-feira, 9 de outubro de 2012

Movimentos Sociais

Os movimentos sociais estão baseados em uma representação envolvendo um coletivo de pessoas demandando algum bem material ou simbólico.

Há uma multiplicidade de interpretações e enfoques sobre o que são movimentos sociais.

Os movimentos se constituem na contracorrente das relações de dominação-subordinação (tais relações também podem ocorrer entre diferentes grupos membros das elites).

Há então uma recusa em reconhecer a existência, a priori, de uma definição ou conceituação geral, única e universal, pelo fato desta definição variar segundos os paradigmas teórico-metodológicos que embasam a análise do autor. Entretanto, é possível localizar dentro de cada teoria de um dado paradigma qual concepção que está utilizando de movimento social.

Destaca-se a diferença entre movimento e grupo de interesse, pois interesses comuns de um grupo são um componente de um movimento mas não bastam para caracterizá-lo como tal.

A ação de um grupo de pessoas tem de ser qualificada por uma série de parâmetros para ser um movimento social. Este grupo deve estar constituído enquanto um coletivo social e para tal necessita de uma identidade em comum. Ser negro, ser mulher, defender as baleias ou não ter teto para morar são atributos que qualificam os componentes de um grupo e dão a eles objetivos comuns para ação. Há uma realidade em comum, anterior à aglutinação de seus interesses.

Movimento social é um fenômeno de opinião de massa lesada, mobilizada em contato com as autoridades.

Movimento social trata-se de uma ação coletiva fora da esfera estabelecida pelas instituições. Sendo assim um movimento social deixa de ser movimento quando se institucionaliza, quando por exemplo se torna uma ONG.

Movimento social refere-se à ação dos homens na história. Esta ação envolve um fazer - por meio de um conjunto de procedimentos -  e um pensar - por meio de um conjunto de ideias que motiva ou dá fundamento a ação. Trata-se de um práxis portanto.

Os movimentos vão voltam segundo a dinâmica do conflito social, da luta social, da busca do novo ou reposição/conservação do velho. Estes fatores conferem às ações dos movimentos caráter reativo, ativo ou passivo. Movimentos sociais são uma das formas possíveis de mudança e transformação social.

As classes sociais surgem na luta social, as classes não antecedem mas surgem na luta. Luta social é um conceito mais abrangente e as classes sociais são uma das formas, e não a única, de agrupar as ações dos homens na história. Classe se refere às ações do indivíduos enquanto agentes produtores e reprodutores socioeconômicos, mas não dá conta de explicar todas as dimensões e fenômenos da vida social. Por isso se desenvolveu a categoria dos atores sociais. Esta não se contrapõe a classe social porque "ator" é um conceito.

Grande parte dos eixos temáticos dos movimentos sociais contemporâneos não diz respeito ao conflito de classe mas a conflitos entre atores da sociedade.

Não bastam as carências para haver um movimento. Elas têm de se traduzir em demandas, que por sua vez poderão se transformar em reivindicações, por meio de uma ação coletiva. O conjunto deste processo é parte constitutiva da formação de um movimento social.

O conjunto desses fatores - carências, legitimidade da demanda, poder político das bases, cenário conjuntural e cultura política do grupo - resultará na força social de um movimento, gerando o campo de forças do movimento social.

Em síntese:

Movimentos sociais são ações sociopolíticas construídas por atores sociais coletivos pertencentes a diferentes classes e camadas sociais, articuladas em certos cenários da conjuntura socioeconômica e política de um país, criando um campo político de força social na sociedade civil. As ações se estruturam a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em conflitos, litígios e disputas vivenciados pelo grupo na sociedade. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva para o movimento, a partir dos interesses em comum. Esta identidade é amalgamada pela força do princípio da solidariedade e construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo, em espaços coletivos não-institucionalizados. Os movimentos geram uma série de inovações nas esferas pública (estatal e não-estatal) e privada; participam direta ou indiretamente da luta política de um país, e contribuem para o desenvolvimento e a transformação da sociedade civil e política. Estas contribuições são observadas quando se realizam análises de períodos de média ou longa duração histórica, nos quais se observam os ciclos de protestos delineados. Os movimentos participam portanto de mudanças social histórica de uma país e o caráter das transformações geradas poderá ser tanto progressista como conservador ou reacionário, dependendo das forças sociopolíticas a que estão articulados, em suas densas redes;  e dos projetos políticos que constroem com suas ações. Eles têm como base de suporte entidades e organizações da sociedade civil e política, com agendas de atuação construídas ao redor de demandas socioeconômicas ou politico-culturais que abrangem as problemáticas conflituosas da sociedade onde atuam.

Texto extraído e adaptado de "Teoria dos Movimentos Sociais" de Maria da Glória Gohn