quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Cibercultura - fique atento!!!!

Você já percebeu que depois de visitar determinado site que tenha algo para vender e clicar em algum produto, o mesmo está sempre exposto para você em outros sites que você visita através de banners de propagandas?

É a vitrine virtual que te perseguirá a vida inteira, rsrsrsss. Basta dar uma olhadinha e ela nunca mais te abandonará... rsrsrs.

Apesar do riso, a questão é um tormento e revela o interesse por trás de tanto incentivo ao uso da internet e novas tecnologias da informação - coisas do mundo econômico-virtual. 

Muitos outros dados passam a ser coletados através das aventuras virtuais e transformados em oportunidades de negócio para megacorporações transnacionais que movimentam um mercado multibilionário. Os chamados medidores cibernéticos-informacionais serão o principal recurso para estas megacorporações construírem e realizarem os desejos e anseios das massas, sem necessariamente se preocuparem se aquilo é bom ou não, afinal de contas o interesse maior é o lucro.

Infelizmente, como muitos outros aspectos da cultura que são gestados pela economia, também a cibercultura está carregada de interesses predominantemente econômicos. Nesta proposta, como em outras antes da virtualização da vida, a cibergeração passa a ser formada para depender da tecnologia e do mundo virtual para tudo, uma imersividade absorvente configura o estilo de vida desta geração. 

A grande maioria não percebe a questão do controle e exploração do ser humano através desta proposta. Uma cultura tecnológica demarcada por circuitos miniaturizados e pela nanotecnologia que visa "facilitar" a vida transportando as pessoas da realidade para o virtual, efetivando cada vez mais esta nova realidade. Uma proposta de dependência crescente. 

Um mundo de prazer e utilidade é oferecido pela cibercultura, atrativo porque promove uma felicidade virtual, mais fácil de configurar do que a vida real que cada vez mais se define como algo difícil, demarcado pelo sofrimento, sem cor, brilho ou música - sem vida. Nesse processo de virtualização, da criação de um novo mundo, um novo espaço, se começa a optar por manter-se nele mais tempo do que no presencial. Desta forma, o ciberesapaço é um abrigo, refúgio para muitas pessoas. Mesmo que algo ilusório, mas temporariamente fascinante e ilusoriamente acolhedor. 

De um lado este mundo desértico, do outro um oásis mirabuloso. Abriu-se a porta para acesso e desfrute, de forma que processos antropotécnicos foram definidos para configurar uma condição psicossocial apenas a partir do âmbito virtual. Tudo é virtualizado, a própria imagem que se quer produzir de si, os relacionamentos, os sentimentos e a construção de uma nova vida - tudo virtual. A compulsão é avassaladora e a vida pode acabar quando a tecnologia desaparece das mãos ou deixa de ser acessível por algum motivo.

Isso é tão crescente que as pessoas ficam neuróticas em relação a esta proposta de nova vida. Cada anseio da vida real impulsiona para a vida virtual. Cada vez mais, o virtual determina o que sobra para o real. As pessoas são dominadas por uma ânsia de publicar, compartilhar e expor de forma compulsiva para manter sua existência no mundo virtual - uma existência anestésica, uma ficção cada vez mais inconsciente e inconsequente. 

A droga da vida virtual, que provoca dependência massiva, passa a ser distribuída sem restrição. Acessível para crianças até idosos, começa a estampar crises de abstinência quando por algum motivo inesperado, não se permite o acesso a tal "realidade". Então um aluno agride violentamente seu professor porque ele tirou seu telefone na sala de aula, ou seja, tentou tirar a vida virtual de suas mãos. Os aparelhos tecnológicos não são os únicos problemas, certo?

Ao se observar desvios de uma forma de cultura, a única saída é confrontar tal cultura e ajudar a produzir uma nova cultura, com novos valores e novas realidades. Isso pode acontecer hoje a partir do momento em que se adquire consciência das implicações e processos que envolvem a proposta atual da cibercultura. Da necessária utilização consciente dos recursos que nos são úteis, mas não podem de forma alguma assumir o controle para produzir um quadro ilusório de vida. Por isso, o caminho não é dizer "não", mas um sim diferente, consciente, orientado e resgatador da vida, com seu adequado espaço e realidade.

Pra começar, se desconecte um pouco, OK? Não estou pedindo para você desligar seu telefone ou computador, estou pedindo para você desconectar, entendeu? Faça outra conexão!

(Ederson Malheiros Menezes - teólogo e sociólogo)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

CRISE CABELEIRA OU SIMPLESMENTE, ENROLADOS

CRISE CABELEIRA, OU SIMPLESMENTE ENROLADOS!


Existem diversas formas de você se atualizar dos principais fatos que envolvem sua cidade, entre eles, visitar o cabeleireiro. Veja, não estou depreciando este profissional, mas é fato que ele convive diariamente com um grande e variado número de pessoas que falam sobre tudo um pouco, consequentemente, o cabeleireiro é uma pessoa informada sobre tudo um pouco.

Você pode se surpreender com aquilo que ele observa. Em um dia desses fui cortar o cabelo, e o profissional que me atendeu falou sobre a crise do país e pessoas que estão enfrentando a dura realidade das demissões e desempregos.

O que mais chamou atenção dele foi o fato de que em uma dada empresa, o chefe de departamento recebe uma ligação em que se diz assim: “degola dois aí!” É… impressionante, não é! Pior, que em certo sentido é uma realidade. A violência do discurso está explícita nos processos que destituem as pessoas de suas esperanças e segurança.

Em outra empresa, um batalhão de funcionários antes de ser demitido é escoltado até o departamento pessoal. Isso para que fosse evitado o que já havia acontecido no passado, em que determinado funcionário em meio ao desespero, se feriu para garantir sua permanência na empresa. Então, o problema agora só poderia ser resolvido com escolta ao departamento pessoal. Que mundo é esse?

Não quero ser juiz de nenhuma destas causas, pois nos faltam argumentos diante das realidades - pode isso? Compreende-se a má índole de algumas pessoas que encontram subterfúgios para assegurar benefícios “legais” para si, assim como compreende-se as “escoltas” ao departamento pessoal como dupla proteção. Uma moeda com cara e coroa, uma história com dois lados e duas razões. Ninguém sabe ao certo de onde veio a moeda, mas por enquanto, "tudo" bem...

Algumas perguntas devem ampliar a compreensão: O que faz com que um funcionário entre em desespero a ponto de se autoflagelar para manter seu trabalho? O que faz com que uma empresa chegue ao ponto de escoltar seus funcionários para garantir que os mesmos não abusem da lei em seu benefício? Certamente que outras questões podem ser elaboradas, mas estas já dão muito “pano-pra-manga” ou uma “baita” cabeleira para cortar.

Precisamos mais cabeleireiros! Bom… uma outra opção seria retomar o conto da Rapunzel com seus longos cabelos, que deu origem a nova versão “Enrolados”, uma definição ainda melhor para o que se vive na contemporaneidade.


Ederson Malheiros Menezes

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Onde trabalhar como sociólogo ou cientista social?

1. Sindical
  • Exerce funções de assessoramento sindical;
  • Atua no planejamento político e sindical;
  • Atua nas campanhas salariais;
  • Atua nas negociações coletivas e dissídios de categoria;
  • Atua nos cursos de formação
2. Meio Ambiente
  • Atua elaborando relatórios e estudos de impacto de meio ambiente;
  • Cuida de relações sociais com o meio;
  • Acompanha projetos de assentamentos humanos rurais em áreas de barragens etc.;
  • Torna-se analista sócio-ambiental.
3. Planejamento Urbano
  • Atua nas áreas das secretarias municipais e estaduais de planejamento urbano;
  • Atua nas relações sociais urbanas etc.
4. Reforma Agrária
  • Atuam em assentamentos de trabalhadores rurais sem-terra;
  • Atua em estudos de perfil de assentados;
  • Atua em estudos sócio-econômicos de populações a serem assentadas, atuando em equipes Atua nas áreas multidisciplinares de profissionais (com economistas, geógrafos, agrônomos etc.).
5. Mercado Editorial
  • Atua em assessoramento na área de publicações especializadas e técnicas;
  • Atua em pareceres como consultor especializado;
  • Coordenam departamentos de documentação;
  • Realizam pesquisas etc.
6. Pesquisa de Opinião e de Mercado
  • Atua na elaboração do “survey” de perfil dos entrevistados;
  • Planeja e executa todo o projeto da pesquisa;
  • Elabora os relatórios finais das pesquisas;
  • Treina entrevistadores de campo;
  • Define a base amostral;
  • Orienta programadores de informática sobre o sistema de apuração etc.
7. Recursos Humanos
  • Atuam no processo desde contratação, treinamento, análises das relações humanas no trabalho;
  • Atuam na área de relações industriais;
  • Atuam em negociações trabalhistas e sindicais, dissídios coletivos etc.
8. Legislativo
  • Atua na assessoria legislativa parlamentar, em mesas de Câmaras e Assembleias Legislativas e mesmo no Congresso Nacional;
  • Desenvolvem estudos e pesquisas especiais que fundamentam elaboração de projetos de Lei.
9. Relações Internacionais
  • Atuam nos departamentos de relações internacionais das grandes empresas (ainda que na sua maioria voltado para o comércio), como analistas e consultores internacionais; atuam na área diplomática;
  • Desenvolvem estudos sobre conflitos regionais e dão pareceres sobre os mesmos, propondo soluções.
10. Docência
  • Atua na docência de sociologia no 2º grau e em quase todos os cursos superiores do país;
  • Atua em cursos especiais de cidadania e ética que vem sendo dados a trabalhadores em cursos de reciclagem.
11. Área da Saúde
  • Participa ativamente de grupos multidisciplinares de saúde com outras profissões em instituições de reabilitação profissional;
  • Atuam em medicina preventiva, postos de saúde comunitária.
12. Marketing Político
  • Atua na assessoria política; análise política e estatística em geral de resultados de levantamento de pesquisas e sondagens eleitorais; assessoramento em campanhas eleitorais.
13. Pesquisa Social
  • Atua em todas as pesquisas desenvolvidas por agências sociais, excetuando-se as de opinião pública (pesquisas étnicas, demográficas, de gênero etc.).
14. Comunicações
  • Atua no assessoramento das redes de comunicações de massa;
  • Atua nas análises de resultados de audiências;
  • Atua em pesquisas qualitativas de audiências;
  • Atua em impactos de programas nos ouvintes;
  • Atua em índices de satisfações com a programação etc.
15. Jurídica e Carcerária
  • Atua em estudos de delinqüências sociais;
  • Atua em estudos de violência social;
  • Atua em estudo sobre socio-patias;
  • Atua em estudos de populações carcerárias;
  • Atua em análises de perfis etc.
Fontes: Federação Nacional dos Sociólogos, Conselho Federal de Sociologia, International Sociological Association, Associação dos Sociólogos do Estado de Sergipe,
Extraído de <https://aprendendoapensarcomasociologia.wordpress.com/carreira-profissional/>.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A corrupção no Brasil

O Brasil "pouco ou nada fez" para lutar contra a corrupção internacional nos últimos quatro anos, segundo um estudo da ONG Transparência Internacional divulgado nesta quinta-feira.
O estudo leva em conta o que vem sendo feito pelos 41 países signatários da Convenção da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos em Transações Comerciais Internacionais, em vigor há 16 anos e ratificada pelo Brasil em 2000.
De acordo com o levantamento feito pela ONG, quase a metade dos signatários, 20 países, incluindo o Brasil, estão na categoria dos que "pouco ou nada fazem para investigar e levar à Justiça casos de corrupção internacional".
O relatório aborda a operação Lava Jato, mencionando a denúncia e prisão de políticos, ex-políticos e executivos de alto escalão, a cooperação com países com a Suíça e a recuperação de mais de R$ 500 milhões desviados. Também diz que a operação em curso atualmente "é muito dinâmica e deve resultar em mais investigações e processos judiciais relacionados a condutas corruptas no Brasil e no exterior".
Mas agrega que o Brasil "ainda não adotou e implementou leis que estabeleçam a responsabilidade corporativa para atividades corruptas, incluindo subornos internacionais e enriquecimento ilícito".
E agrega que "diversos Estados e municípios ainda precisam emitir regulamentações locais para a Lei Anticorrupção (de 2013)" e que falta "vontade política e recursos inadequados para reforçar medidas de combate à corrupção e sanções".
Ao mesmo tempo, a Transparência Internacional afirma que o Brasil está reforçando suas leis anticorrupção. "Um número significativo de emendas legislativas para combater a corrupção no Brasil foram adotadas em 2014", afirma a Transparência Internacional.
Fonte: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150819_corrupcao_internacional_combate_brasil_rb#share-tools>. Acesso em: 21/09/2015.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A doença da "normalidade" na universidade

Somos todos normóticos em um sistema acadêmico de formação de pesquisadores e de produção de conhecimentos que está doente, e nossa Normose acadêmica tem feito naufragar o pensamento criativo e a iniciativa para o novo em nossas universidades.

Doença sempre foi algo associado à anormalidade, à disfunção, a tudo aquilo que foge ao funcionamento regular. Na área médica, a doença é identificada por sintomas específicos que afetam o ser vivo, alterando o seu estado normal de saúde. A saúde, por sua vez, identifica-se como sendo o estado de normalidade de funcionamento do organismo.

Numa analogia com os organismos biológicos, o sociólogo Émile Durkheim também sugeriu como identificar saúde e doença em termos dos fatos sociais: saúde se reconhece pela perfeita adaptação do organismo ao seu meio, ao passo que doença é tudo o que perturba essa adaptação.

Então, ser saudável é ser normal, é ser adaptado, certo? Não necessariamente: apesar de Durkheim, há quem considere que do ponto de vista social, ser normal demais pode também ser patológico, ou pode levar a patologias letais.

Os pensadores alternativos Pierre Weil, Jean-Ives Leloup e Roberto Crema chamaram isto de Normose, a doença da normalidade, algo bem comum no meio acadêmico de hoje. Para Weil, a Normose pode ser definida como um conjunto de normas, conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir, que são aprovados por consenso ou por maioria em uma determinada sociedade e que provocam sofrimento, doença e morte. Crema afirma que uma pessoa normótica é aquela que se adapta a um contexto e a um sistema doente, e age como a maioria. E para Leloup, a Normose é um sofrimento, a busca da conformidade que impede o encaminhamento do desejo no interior de cada um, interrompendo o fluxo evolutivo e gerando estagnação.

Estes conceitos, embora fundados sobre um propósito de análise pessoal e existencial, são muito pertinentes ao que se vive hoje na academia. Aqui, pela Normose não é apenas o indivíduo que adoece, que estagna, que deixa de realizar o seu potencial criador, mas o próprio conhecimento. E não apenas no Brasil, também em outras partes do mundo.

Peter Higgs, Prêmio Nobel de Física de 2013 disse recentemente que não teria lugar no meio acadêmico de hoje, que não seria considerado suficientemente produtivo, e que, por isso, provavelmente não teria descoberto o Bosão de Higgs (a “partícula de Deus), descrito por ele em 1964 mas somente comprovado em 2012, quase 50 anos depois, com a entrada em funcionamento de uma das maiores máquinas já construídas pelo homem, o acelerador de partículas Large Hadron Collider. Higgs contou ao The Guardian que era considerado uma “vergonha” para o seu Departamento pela baixa produtividade de artigos que apresentava, e que só não foi demitido pela possibilidade sempre iminente de um dia ganhar um Nobel, caso sua teoria fosse comprovada. Ele reconheceu que, nos dias de hoje, de obsessão por publicações no ritmo do “publique ou pereça”, não teria tempo nem espaço para desenvolver a sua teoria. À sua época, porém, não só o ambiente acadêmico era outro como ele próprio era um desajustado, um anormal, uma espécie de dissidente que trabalhava sozinho em uma área fora de moda, a física teórica expeculativa. Então, sua teoria é também fruto desta saudável “anormalidade”.

A mim, embora não surpreendam, as declarações de Higgs soam estarrecedoras: ou seja, com os sistemas meritocráticos de avaliação de hoje, que privilegiam a produção de artigos e não de conhecimentos ou de pensamentos inovadores, uma das maiores descobertas da humanidade nas últimas décadas, que rendeu a Higgs o Nobel em 2013, provavelmente não teria ocorrido, como certamente muitos outros avanços científicos e intelectuais estão deixando de ocorrer em função dos sistemas atuais de avaliação da “produtividade em pesquisa”. É a Normose acadêmica fazendo a sua maior vítima: o próprio conhecimento.

Aliás, nunca se usou tanto a autoridade do Nobel para apontar os desvios doentios do nosso sistema acadêmico e científico como em 2013. Randy Schekman, um dos ganhadores do Nobel de Medicina deste ano, em recente artigo no El País, acusou as revistas Nature, Science e Cell, três das maiores em sua área, de prestarem um verdadeiro desserviço à ciência, ao usarem práticas especulativas para garantirem seus mercados editoriais. Schekman menciona, por exemplo, a artificial redução na quantidade de artigos aceitos, a adoção de critérios sensacionalistas na seleção dos mesmos e um absoluto descompromisso com a qualificação do debate científico. E afirmou que a pressão para os cientistas publicarem em revistas “de luxo” como estas (de alto impacto) encoraja-os a perseguirem campos científicos da moda em vez de optarem por trabalhos mais relevantes. Isto explica a afirmação de Higgs sobre ser improvável a descoberta que lhe deu o Nobel no mundo acadêmico de hoje.

O próprio Schekman publicou muito nestas revistas, inclusive as pesquisas que o levaram ao Nobel: diferentemente de Higgs, que era um dissidente, Schekman também já sofreu de Normose. Porém, agora laureado, decidiu pela própria cura e prometeu evitar estas revistas daqui para adiante, sugerindo não só que todos façam o mesmo, como também que evitem avaliar o mérito acadêmico dos outros pela produção de artigos. Foi preciso um Nobel para que se libertasse da doença.

A atual Normose acadêmica se deve à meritocracia produtivista implantada nas universidades, cujos instrumentos, no Brasil, para garantir a disciplina e esta doentia normalidade são os sistemas de avaliação de pesquisadores e programas de pós-graduação, capitaneados principalmente pela CAPES e CNPq. Estes sistemas têm transformado, nas últimas décadas, docentes e alunos em burocráticos produtores de artigos, afastando-os dos reais problemas da ciência e da sociedade, bem como da busca por conhecimentos e pensamentos realmente novos. A exigência de produtividade é um estímulo ao status quo, obstruindo a criatividade, a iniciativa, o senso crítico e a inovação, pois inovar, criar, empreender, fugir ao normal pode ser perigoso, pode ser incerto, pode ser arriscado quando se tem metas produtivas a cumprir; portanto, não é desejável: o mais seguro é fazer “mais do mesmo”, que é ao que a Normose acadêmica condenou as universidades e seus integrantes ao redor do mundo.

Eu escrevi em um artigo de 2013 que a meritocracia leva a uma ilusão de eficiência e progresso que não podem se realizar, porque as meritocracias modernas são burocracias. Como bem ensinou Max Weber, a burocracia é uma força modeladora inescapável quando se racionaliza e se regulamenta algum campo de atividade, como acontece no sistema científico atual. Para supostamente discriminar por mérito pessoas e organizações acadêmicas, montou-se um tal sistema de regras, critérios avaliativos, hierarquias de valor, indicadores, etc., que a burocratização das ações acadêmicas tornou-se inevitável. Agora é este sistema que orienta as ações dos acadêmicos, afastando-os de seus próprios valores, desejos e convicções, para agirem em função da conveniência em relação aos processos avaliativos, visando controlar os benefícios ou penalidades que eles impõem. Pessoas sob regimes de avaliação meritocráticos se tornam burocratas comportamentais; e burocratas, como se sabe, pela primazia da conformidade organizacional a que se submetem, tornam-se inexoravelmente impessoalistas, formalistas, ritualistas e avessos a riscos e a mudanças. Tornam-se normóticos, preferindo, no caso da academia, uma produção sem significado, sem relevância, sem substância inovadora porém segura, a aventurarem-se incertamente em busca do novo.

Agora, depois de já ter escrito isto naquele artigo, descubro que o Nobel de Medicina de 2002, o sul-africano Sydney Brenner, em entrevista de fevereiro deste ano à King’s Reviw, afirmou exatamente o mesmo. Dentre outras coisas, disse ele que as novas ideias na ciência são obstruídas por burocratas do financiamento de pesquisas e por professores que impedem seus alunos de pós-graduação de seguirem suas próprias propostas de investigação. É ao menos alentador perceber que esta realidade insólita não é apenas uma versão tupiniquim da busca tardia e equivocada por um lugar o sol no campo acadêmico atual, mas uma deformação que assola também os “grandes” da arena científica mundial. E também constatar que os laureados com a distinção do Nobel tem se percebido disto e denunciado ao mundo.

De certa forma, todos na academia sabem que estes sistemas de avaliação acadêmicos têm levado a um produtivismo estéril, mas isto não tem sido suficiente para mudar nem as condutas pessoais, nem as diretrizes do sistema, porque a Normose é uma doença coletiva, não individual. Ela advém da necessidade de legitimação do indivíduo frente ao sistema de regras, normas, valores e significados que se impõe a ele. Por isto é que o pesquisador australiano Stewart Clegg afirmou, certa vez, que “pesquisadores que buscam legitimação profissional podem com muita facilidade ser pressionados a aprender mais e mais sobre problemas cada vez mais desinteressantes e irrelevantes, ou a investigar mais e mais soluções que não funcionam”.

Mas agora me advém uma questão curiosa: por que tantos Nobéis tem denunciado este sistema? Creio que porque do alto da distinção recebida, eles já não tem mais nenhum compromisso com a meritocracia acadêmica, e podem falar do dano que ela causa às ideias realmente inovadoras que, inclusive, podem levar à láurea. Mas também porque o Nobel foge à lógica da meritocracia, ele não é um mecanismo meritocrático, portanto, não é burocrático. Ele é até mesmo político, antes de ser meritocrático e burocrático! É um reconhecimento de “mérito” sem ser uma “cracia”. Ou seja, não há, através dele, um sistema de governo das atividades científicas, e por isso ele não leva a uma racionalidade formal, pois ninguém em consciência normal pautaria sua atividade acadêmica quotidiana pela improvável meta de, talvez já na velhice, ganhar o Nobel; e mesmo que tivesse este excêntrico propósito como pauta, teria que fugir da meritocracia que governa os sistemas científicos atuais para chegar a um lugar reconhecidamente distinto, pois ser normal não leva ao Nobel.

Mas este não é o mundo da vida dos seres acadêmicos de hoje, aqui vivemos em uma meritocracia burocrática, e num contexto assim, pouco adiantam as advertências da editora-chefe da revista Science, Marcia McNutt, publicados no Estadão, de que a ciência brasileira precisa ser mais corajosa e mais ousada se quiser crescer em relevância no cenário internacional. Segundo ela, para criar essa coragem é preciso aprender a correr riscos, e aceitar a possibilidade de fracasso como um elemento intrínseco do processo científico. Mas quando as pessoas são penalizadas pelo fracasso, ou são ensinadas que fracassar não é um resultado aceitável, elas deixam de arriscar; e quem não arrisca não produz grandes descobertas, produz apenas ciência incremental, de baixo impacto, que é o perfil geral da ciência brasileira atualmente, segundo ela. É a Normose acadêmica “a brasileira” vista de fora.

Somos todos normóticos em um sistema acadêmico de formação de pesquisadores e de produção de conhecimentos que está doente, e nossa Normose acadêmica tem feito naufragar o pensamento criativo e a iniciativa para o novo em nossas universidades. Sem eles, porém, não há futuro significativo para a vida intelectual dentro delas, nem na ciência nem nas artes.

Texto de Renato Santos de Souza, publicado no E-Book: NASCIMENTO, L.F.M. (Org.) Lia, mas não escrevia (livro eletrônico): contos, crônicas e poesias. Porto Alegre: LFM do Nascimento, 2014.

Fonte: <http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/07/a-doenca-da-normalidade-na-universidade.html>. Acesso em: 04/09/2015.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Sete pecados capitais cometidos contra a infância

Médico enumera sete pecados capitais cometidos contra a infância

Criado em 08/07/15 12h40 e atualizado em 14/07/15 16h42
Por Bruna Ramos - Portal EBC Fonte:TEDx Talks
Daniel falou sobre o assunto no evento TEDx Laçador, realizado em Porto Alegre, em junho. Segundo o palestrante, as crianças brasileiras vêm sendo muito maltratadas pela sociedade. "Além de o país não oferecer boas condições de saúde, moradia, educação e segurança, os pais e cuidadores das crianças têm cometido pecados ao longo de sua criação", afirma.
O médico enumera:

1 – Privação do nascimento natural e do aleitamento materno

“A cultura da cesárea faz com que as mulheres acreditem que o parto normal deve ser a cesárea. Que o parto normal é nocivo, doloroso, perigoso. Isso gera diversos malefícios para as crianças.” “Da mesma forma acontece com o leite materno. A mulher quer amamentar sua filha, mas (muitas vezes) em dois meses esta criança está desmamada. Isso vem, em grande parte, por causa da indústria, que faz propaganda pelo nome que dá às suas fórmulas: “premium”, “supreme”, e a propaganda que ela faz com o médico.” 

2 – Terceirização da infância

Por causa da falta de tempo dos pais, que têm que trabalhar para sustentar a família, as crianças estão sendo deixadas em creches ou com babás. “Perdemos o que é mais precioso na infância: o convívio com os filhos. Convívio é aquilo que nos dá a intimidade, a capacidade de estar junto, o amor, a sensação de estar cuidando de alguém, a sensação de conhecer profundamente alguém”.

3  - Intoxicação da infância

Também pela falta de tempo, é mais acessível trocar a comida tradicional brasileira por uma alimentação rica em gordura, sal e açúcar, que vem da comida congelada e industrializada. “Obesidade e diabetes estão explodindo na infância”.

4 – Confinamento e distração permanente

As crianças passam até oito horas por dia conectadas em aparelhos eletrônicos. Esse confinamento impede que elas tenham um momento de consciência, de vazio, de tédio. “O tédio é fundamental na infância. Porque o tédio e o vazio são berço daquilo que é mais importante para nós, a criatividade e imaginação. Nós estamos amputando isso dos nossos filhos.”  

5 – Mercantilização da Infância e Consumismo Infantil

Assistindo muita televisão durante o dia, as crianças são massacradas pela publicidade, por valores de consumismo. “E essa publicidade é covarde, explora a incapacidade da criança de distinguir fantasia de realidade, explora o amor dela por personagens e instiga nela valores como consumismo obscessivo, hipervalorização da aparência, a futilidade e coisas piores”.

6 – Adultização e erotização precoce

“Existe uma erotização que usa a criança de 7, 8 anos para vender produtos de moda, uma erotização baseada no machismo, na objetificação das meninas e das mulheres, na valorização excessiva da aparência.”

7 – Entronização e superproteção da infância

Para compensar a ausência, muitos pais tornam-se permissivos e acabam perdendo a autoridade sobre seus filhos. Mas a criança precisa de gente que conduza a vida dela. “A gente sabe que a importância dos limites do não são formas fundamentais de amor. A gente precisa dar para os nossos filhos, mas a gente tá perdendo a capacidade. Em vez disso, a gente se interpõe entre as experiências dos filhos e do mundo fazendo justamente que eles não tenham experiência da vida e portanto não desenvolvam mecanismos de lidar com a frustração, com a dor e com a dificuldade. E certamente o mundo vai entregar para eles mais tarde.”
Como forma de enfrentar estes pecados, Daniel propõe uma solução que passa por mudanças em apenas dois fatores: tempo e espaço. No caso do tempo, o médico sugere que os pais estejam presentes na vida do filho em pelo menos 10% do tempo em que estão acordados. Em uma conta geral, isso representa 1h40 por dia de dedicação aos filhos. Em relação ao espaço, a orientação é estar perto da natureza. “O convívio com o espaço aberto vai afastar a gente das telas, vai reduzir o consumismo e o materialismo excessivos, vai promover o livre brincar (que, por sua vez, vai gerar inteligência, humor e criatividade), vai gerar convívio entre as famílias, vai promover o contato com o ar, o sol e o verde e vai reduzir todos os problemas da infância.”
Assista à palestra na íntegra:



Fonte: <http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2015/07/medico-enumera-sete-pecados-capitais-cometidos-contra-infancia>. Acesso em: 28/08/2015.

Ampliando a compreensão acerca do "jeitinho brasileiro"

Os sentidos do “jeitinho brasileiro” em nossa cultura
O “jeitinho brasileiro” é usado para definir tanto as situações positivas como as negativas: a criatividade ao resolver conflitos e até ao falarmos de corrupção. Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pesquisa apresenta as diversas nuances dos sentidos que o “jeitinho brasileiro” pode ter na cultura brasileira e mostra outras possibilidades de se expressar diante de tais situações.
Pesquisa apresenta diversas nuances dos sentidos para o "jeitinho brasileiro"
“A ideia é mostrar a existência de outras palavras e expressões que trazem uma maior precisão para o entendimento de um determinado fato”, destaca a autora do estudo, a professora de inglês Valquiria da Silva Moisés. As palavras que ela sugere são: solidariedade, sobrevivência, habilidade, criatividade, flexibilidade, improvisação, charme, simpatia, malandragem, prevaricação, hipocrisia, flexibilidade moral. Ela ressalta, no entanto, que há uma linha muito tênue entre essas palavras e, por isso, fica difícil estabelecer uma ordem muito rígida entre elas.
A pesquisadora se baseou na representação gráfica criada por Livia Barbosa, antropóloga que propõe uma sistematização do “jeitinho brasileiro” a partir de um continuum que vai do favor (positivo), passando pelo jeito (que pode ser positivo ou negativo) até a corrupção (negativo). Valquíria ampliou essecontinuum e identificou palavras que poderiam se encaixar nessa sistematização.
Para isso, ela fez um levantamento de vários trabalhos nas áreas corporativa, administração, ciências sociais, letras, literatura, comunicação e semiótica. Foi realizado um estudo léxico (conjunto de palavras usadas em uma língua ou em um texto) levando em conta a semiótica discursiva francesa do linguísta Algirdas Julius Greimas, que “tem o texto como seu objeto e procura explicar os seus sentidos, isto é, o que o texto diz, e os mecanismos e os procedimentos que constroem esses sentidos”, explica Valquíria. A pesquisadora também selecionou músicas, textos e até fatos históricos sobre o tema.
Do favor à corrupção
Dentre os textos analisados estão a crônica Moça deitada na grama, de Carlos Drummond de Andrade, o conto A carteira, de Machado de Assis; um artigo do jornalista Clovis Rossi sobre fato ocorrido na Holanda, em jantar oferecido pela rainha Beatrix ao então presidente Lula (Jeitinho não basta); e um fato relatado em uma palestra pelo filósofo Mario Sergio Cortella (Linha de produção). Já as músicas incluem Adoniran Barbosa (Despejo na favelaAbrigo de vagabundos); Ismael Silva (Antonico), Gabriel, o Pensador (BrasaPega ladrãoRap do mensalão) Detonautas (Ladrão de gravata); MV Bill (Falcão); Gilberto Gil (Toda menina baiana); Luiz Gonzaga (Daquele jeito); Roberto Carlos (Jeito estúpido de amar); Braguinha (Vai com jeito), Toquinho (Castigo não); Chico Buarque (O que será?), Rock Roach (Jeitinho brasileiro), entre outras.

Como fato histórico, a pesquisadora cita uma passagem da Segunda Guerra, quando a Força Expedicionária Brasileira (FEB) estava na Itália, na cordilheira dos Apeninos, junto com os soldados americanos. Todos sofriam com a neve, o frio intenso e a chuva, mas ocorriam muito mais baixas entre os americanos do que de brasileiros. “Os brasileiros forravam as botas com folhas de jornal e, com isso, padeciam menos. Já os americanos ficavam esperando alguma solução vinda dos seus superiores e padeciam mais, apesar de estarem habituados às baixas temperaturas”, explica. Este “jeitinho” pode significar sobrevivência, improvisação ou criatividade. Ou todas elas.
Na escala entre favor e corrupção, Valquíria aponta a música Antonico como um exemplo de favor (solidariedade): “Ôh Antonico vou lhe pedir um favor / Que só depende da sua boa vontade / É necessário uma viração pra o Nestor / Que está vivendo em grande dificuldade”. No outro extremo, o da corrupção, está Jeitinho brasileiro (flexibilidade moral): “É tão fácil se fazer de injustiçado / Quando é você que está sendo explorado / Mas se estiver com o poder na mão / É o primeiro a fazer uso da exploração”.
Representação gráfica que vai do favor à corrupção, ilustrada por meio de músicas, fatos reais e crônicas e que ajuda a explicar as várias faces do "jeitinho brasileiro"
Brazilian little way
Segundo a pesquisadora, o “jeitinho” já foi traduzido para a Língua Inglesa como “ability”, “work something out”, “find a way round”, ou mesmo “Brazilianjeitinho”. Os jornais ingleses The Guardian e Financial Times já utilizaram as expressões “Brazilian way” e “Brazilian litlle way”. Já o antropólogo Roberto DaMatta propôs o “clever dodge”. “Mas são expressões que não abarcam todos os sentidos”, adverte Valquíria.

Ela completa lembrando que o “jeitinho” não é privilégio brasileiro. “Encontramos algo semelhante em vários outros países”, diz. Ela cita como exemplo as palavras trinkgel, na Alemanha; bustarela, na Itália; speed money, na Índia; backsheesh, no Egito; mordida, no México; vizyatha, na Rússia; chtara, na Argélia; palanca, na Colômbia; pituto, no Chile, e guaperia, em Cuba.
A dissertação Do jeitinho brasileiro ao Brazilian little way: uma leitura semiótica foi apresentada em setembro de 2014, na FFLCH, sob a orientação da professora Elizabeth Harkot-de-La-Taille.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Mais informações: email valmoises@gmail.com, com Valquíria Moisés

Fonte: <http://www.usp.br/agen/?p=217518> . Acesso em: 28/08/2015.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A PÁTRIA EDUCADORA - Manifestação em Panambi RS



Panambi (RS), 03/08/2015.

Eles ocuparam a esquina da praça central da cidade durante a manhã e tarde. Soavam apitos, exibiam cartazes e agitavam bandeiras. Era a tentativa de chamar atenção da população sobre a "PÁTRIA EDUCADORA". A interrogação no final indica a reflexão necessária, pois em um país marcado por campanhas políticas que utilizam a bandeira da educação intensamente, agora se vê em uma repetida contradição.

Mas o questionamento não é apenas para "PÁTRIA EDUCADORA", é também para o cidadão que ao andar pelas ruas é convidado para um exercício de empatia, ou seja, para colocar-se no lugar dos atores da educação. Então, eles perguntam para você cidadão, você que deixa seus filhos para serem educados, e os entrega na certeza de que as pessoas (educadores e educadoras) os receberão com competência e dignidade. Quem você quer que cuide e eduque seus filhos enquanto você trabalha pagando impostos absurdos no país da corrupção?


Por incrível que pareça, em meio a manifestação, uma educadora testemunhou que na parte da manhã houve manifestações contrárias a iniciativa dos educadores que estavam na rua tentando mostrar o que acontece na "PÁTRIA EDUCADORA". Neste confronto, foi dito aos educadores "vão trabalhar". Mas é claro que esta declaração não significa apenas isso, ela significa o direito que alguém tem de permanecer servindo a um sistema opressor, manipulativo, corrupto e perverso que destitui os maiores valores da vida - o valor do humano. O enunciado só revela a efetiva servidão voluntária a que se submeteu a cidadania condicionada. Provavelmente era alguém atrasado para pagar seus impostos sem saber como fazê-lo.


Um outro cartaz denuncia uma política "sagrada", em que os interesses particulares da política brasileira revelam sua miséria.

Então é possível concluir que ainda existem muitos elementos "sagrados" e que são venerados conscientemente por quem tira proveito maquiavelicamente disso e por aqueles que veneram sem saber por que o fazem. A manifestação de uma fé política alienada. Mas se os elementos desta sagrada política assim funcionam, então pra que uma "PÁTRIA EDUCADORA". Não precisamos de informação, nem de manifestação, basta ter fé sem obras.

Ainda bem que apesar das limitações, timidez e constrangimento, alguém ainda tenta, mesmo que em uma esquina da cidade, por algum curto período de tempo, fazer você refletir um pouco mais. Para manter e ampliar isso, será necessário fé com obras. Mas isso é muito comprometedor para muitas pessoas, será necessário muita fé, fé consciente e fé atuante - não é coisa para gente atrasada para pagar tributos que serão usados posteriormente não sei aonde. Afinal, o importante é pagar o preço.

Uma manifestação simples, que deve adquirir sua eficácia na própria categoria que a faz. Uma manifestação educativa, que elucida as realidades da nação brasileira e que deseja construir junto a justiça tão almejada.

Quer participar? Faça de forma consciente e digna, conservando o respeito e cooperando para educar o Brasil. Afinal de contas, depois de pagar as contas, ainda teremos que arregaçar as mangas para construir a "PÁTRIA EDUCADORA".

(Ederson Malheiros Menezes, teólogo e sociólogo)

segunda-feira, 27 de julho de 2015

SÓ JUSTIÇA

Na prática todos querem, porém poucos possuem. A dificuldade já começa quando se tenta definir o que é justiça, pois as definições não têm única direção. Os juristas parecem ser os que mais refletem o desafio de sintetizar seu conteúdo, pois a justiça é a razão da própria área de atuação.

O que é justo? Todos possuem suas razões para justificar seja lá o que for. E o problema maior da justiça parece ser indicado exatamente pelo direito que todos possuem de se autojustificar. Talvez possa ser uma autodefesa acerca da justiça determinada por poucos ou insuficiente.

Quando poucos definem o que é justo, a justiça torna-se mínima, tendenciosa - alguns a chamam de cega. Quando o justo fica demasiado sintético torna-se excludente. Que complicação! Justiça abrangente não chega a definição e justiça limitada é sempre insuficiente.

Atribuir o direito de definir e exercer justiça a outro é sempre renúncia, tentar de forma setorizada é o encontro agendado com a confusão. Ignorar a justiça é entregar-se a barbárie. Promovê-la sem consciência, um desatino impetuoso.

Marcada historicamente pela força e formosura, a justiça reclama ainda identidade e sempre de novo reciclagem inclusiva. A revisão do que se compreende por justiça natural e a reconfiguração da justiça positiva.

O instigar para além das normas técnicas é uma exigência tão grande quanto o olhar aquém, necessário exercício para capturar o real, o temporal e o eterno. "Seja feita Tua Justiça".

Por isso, sua contribuição significa muito à justiça.

Ederson Malheiros Menezes

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Discursos e dialogos - Como fazer?

Na última postagem sobre Dicas, disse que iria fornecer alguns conselhos sobre diálogos, mas, por mais que seja divertido brincar com os diálogos dos personagens, é de extrema importância que o escritor conheça os três tipos de discursos para conseguir elaborar bons diálogos. Sendo assim, peço desculpas pela mudança, mas tenho certeza que essa é a melhor forma.
Com tudo devidamente explicado, vamos seguir com as dicas do Folhetim.
Hoje, vou introduzir o conceito de discursos que, segundo o Dicionário Houaiss quer dizer: “enunciado oral ou escrito em que se supõe um locutor e um interlocutor“. Assim, temos, então, o Discurso Direto, Indireto e o Indireto Livre, técnicas narrativas extremamente utilizadas em textos literários.
Tenha em mente que o correto uso dos discursos pode influenciar na fluência da história e, consequentemente, no sucesso com os leitores. Portanto, não deixe de conferir como cada discurso é produzido e quais as melhores formas de utilizá-lo para ter um texto mais interessante.

Discursos: o Direto; o Indireto e o Indireto Livre


1. Discurso Direto
O discurso direto é o mais conhecido. Com ele, o narrador interrompe a narrativa com as falas do personagem, permitindo que ele possa “conversar” diretamente com o leitor, isto é, o narrador entrega a palavra ao próprio personagem.
Sua estrutura é muito simples, as falas são introduzidas por um verbo declarativo, dois pontos e, na outra linha, travessão.
O interessante, neste discurso, é que o escritor permite que o personagem tome vida através de suas próprias palavras. Ou seja, através do discurso direto, podemos estabelecer um vínculo direto com o personagem de forma integral e literal.
Vamos a um exemplo de Discurso Direto:
Sentado à mesa do bar, Carlos levantou-se e foi até a mesa de Júlia, uma antiga colega de faculdade e, sem muita pretensão, perguntou:
– Júlia?! Não acredito que é você! Nossa, quanto tempo!

2. Discurso Indireto
Nesta forma de discurso, o narrador, ao invés de deixar o personagem expressar suas opiniões, toma a fala para si e a reproduz em suas próprias palavras, interferindo na ligação entre o personagem e o leitor.
Muitas vezes, o uso do discurso indireto pode ser utilizado para esconder a personalidade do personagem, pois, como é o narrador que expressa a fala do personagem, a integralidade e literalidade da fala se perde na “tradução” do narrador.
Vale lembrar que no Discurso Indireto, o tempo verbal será sempre no passado e na 3ª pessoa, diferente do discurso direto, onde a fala ocorre naquele exato momento.
Abaixo, deixo um exemplo de Discurso Indireto:
Sentado à mesa do bar, Carlos levantou-se e caminhou até a mesa de Júlia, uma antiga colega de faculdade. Chegando à mesa, como se não a conhecesse, perguntou se ela era a Júlia, aquela antiga amiga, e quando viu que estava certo, espantou-se, afirmando que há muito não se encontravam.

3. Discurso Indireto Livre
O Discurso Indireto Livre é o resultado de uma mistura dos dois discursos anteriores, ou seja, uma pitada de discurso direto e indireto para compor as falas dos personagens.
Essa técnica é uma excelente ferramenta para expressar o que os personagens estão imaginando. Quais são seus sonhos, desejos e ações que farão no decorrer da história, permitindo que o leitor entre, verdadeiramente, na cabeça do personagem, podendo se identificar com ele e, porque não, torcer para que ele se dê bem no final da história.
O uso do discurso indireto livre pode ser muito gratificante para a história. Pois, com ele, o personagem acaba recebendo um maior destaque – caso seja necessário. Porém, para que esse discurso seja utilizado, o narrador precisa ser onisciente, isto é, aquele sabe tudo sobre os personagens; seus medos, anseios e desejos. Portanto, vê que essa técnica é muito utilizada para o personagem principal, assim como para outros que necessitam de maior destaque, como, por exemplo, o vilão.
Vejamos um exemplo de Discurso Indireto Livre:
Carlos sempre imaginou que a faculdade havia sido a sua melhor fase, não só pelos amigos, mas pelas festas. Ah, as festas…
As noites em claro que passava conversando com uma, duas, três, ou até quatro calouras era o que mais sentia falta. De fato que muitas conversas eram superficiais; notas, aulas chatas, professores chatos e provas. Enfim, conversas descartáveis, mas que rendiam boas horas de diversão.
Porém, para Carlos, as melhores conversas eram aquelas que varriam a madrugada adentro, parando somente para o café da manhã. Conversas que ele só tinha com Júlia, uma aluna do 2º período, uma linda mulher: morena, alta, incrivelmente sensual e, a melhor parte, inteligente. Ah, que saudade tinha de Júlia e suas conversas. E, sentado, esperando João que havia saído para fumar, Carlos se lembrava dessas longas conversar, imaginando o que teria acontecido com Júlia desde o final da faculdade, e se arrependendo por não ter mantido contato com ela.
Com certa tristeza no olhar, Carlos chamou o garçom e pediu mais uma porção de batata frita, como João havia lhe pedido, antes de sair. Porém, ao virar-se para procurar João, que já estava fora há mais de 15 minutos, Carlos não pode acreditar no que via. Júlia, a aluna do 2º semestre, estava sentada a duas mesas de distância, sozinha e perfeitamente linda. Seus cabelos soltos seguiam o ritmo da brisa que soprava pela janela. E com os olhos fixados naquela visão, certificou-se que era a mesma Júlia e, sussurando, afirmou em voz baixa: É ela!
Como se algo o forçasse a levantar, criou coragem e sem pretensão alguma, dirigiu-se até sua mesa e perguntou:
– Júlia?! Não acredito que é você! Nossa, quanto tempo!

E esses são as três técnicas.
Pretendi utilizar os mesmos personagens e as mesmas circunstâncias para que você pudesse ver o quão importante são esses três discursos. E espero que vocês tenham notado que, dependendo do discurso adotado, muita coisa pode mudar. Aliás, quem não imaginou que Carlos era mais um rapaz em um bar querendo se dar bem com Júlia? :)
E na próxima segunda (agora sim), daremos algumas dicas sobre a produção de diálogos. Não perca!
Fonte: <http://www.folhetimonline.com.br/2011/11/28/dicas-melhores-dialogos-entenda-os-3-tipos-de-discurso/>. Acesso em: 22/09/2015.

Escrever - Como melhorar?

O maior medo de qualquer escritor, seja ele iniciante ou profissional, é o inesperado Bloqueio Mental. Um momento de angústia e decepção pessoal.
Infelizmente, o bloqueio mental não é um privilégio de escritores. Muitos adolescentes, em fase de vestibular, têm essa dificuldade, principalmente quando ouvem do professor: Escrever uma redação é simples, basta seguir o feijão com arroz: Introdução – Desenvolvimento – Conclusão. Uma técnica simples, mas, quando uma foto aparece combinada com uma frase e o candidato precisa fazer uma relação entre as duas, essa técnica se torna praticamente inútil diante do desespero momentâneo que assola o cidadão.
Certamente, tanto eu quanto você já passamos por situações como essas, tanto na vida acadêmica quanto profissional. Mas saiba que existe uma forma perder esse medo ou, pelo menos, evitar que suas consequências durem mais do que 3 minutos.
A verdade é que não há uma fórmula para se escrever bem ou aquilo que se é pedido, mas há dicas que poderão te dar uma segurança maior, isso com certeza. Porém, antes de entrarmos nas dicas, deixaremos dois conselhos valiosos para que você possa aprimorar o seu lado escritor:
1º Ter um bom dicionário:
Um dicionário não só ajuda à escrita como proporciona a descoberta de novas palavras. Além de dispor de conjugações verbais, regras de gramática e, em muitos casos, sinônimos que ajudam a encorpar seu texto, o dicionário te dará, também, uma segurança na hora de escrever, como uma pedra fundamental da vida educacional de qualquer indivíduo.
2º Ter uma Leitura diversificada:
Leia livros, revistas, bulas de remédios, panfletos, notas de rodapé. Leia tudo que aparecer pela tua frente, sem preguiça e com calma. Manter contato com diversos textos (literários, jornalísticos ou informativos) possibilitará o desenvolvimento do seu lado crítico, permitindo melhores escolhas de leituras no futuro, pois, ninguém sabe o que lhe agrada ou não, sem antes conhecer o tema. Apesar de ser a parte mais trabalhosa, a leitura agrega conhecimentos que ficarão com você até o último dia de sua vida, ou até o início de um mal de Alzheimer. 😉

7 Dicas para Melhorar a Escrita:


1. Transcreva um diálogo.
Escolha uma entrevista de rádio, televisão ou até de vídeos na internet e transcreva aquele diálogo. Tente pontuar corretamente, usando um dicionário se for preciso. Além de aprender as formas de pontuação utilizadas em um diálogo, você poderá se preparar para as próximas dicas que virão.
2. Escreva um diário.
Por mais bobo que isso possa parecer, escrever um diário proporciona um autoconhecimento como te ajuda a perder o medo da escrita. Escrevendo somente para você, o medo de escrever errado e ser criticado somem, deixando você livre para se expressar verdadeiramente. Sem contar que, no futuro, você irá me agradecer por essa dica! 😉
3. Escolha um local, uma foto ou um quadro.
Focalizando na imagem, tente descrever o ambiente em que a imagem foi inserida. Por exemplo: se for a imagem de uma cadeira, descreva o material que ela é feita, o local onde ela foi colocada, a iluminação que entrava pela janela, ou a iluminação artificial que fez com que a imagem aparecesse. Descreva o clima: estava frio? Era inverno, verão, primavera ou outono? Tente se imaginar como um mero observador da cena. A descrição permite que o leitor entre na história. Nunca subestime o poder da sugestão.
4. Siga o exemplo do twitter.
Descreva o seu quarto (ambiente com a tua cara) em 140 palavras . Saber enxugar o texto é fundamental, principalmente quando você precisa demonstrar conhecimento em poucas palavras, como é o caso de redações de vestibular. Tente tirar proveito dessa técnica em outras mídias, seja um texto, uma redação ou até em pequenos contos. Se você não vê muito sentido nisso, veja como Eça de Queiroz descreve o Primo Basílio num dos primeiros parágrafos do livro:

A sala esteirada, alegrava, com o seu teto de madeira pintado a branco, o seu papel claro de ramagens verdes. Era em julho, um domingo; fazia um grande calor; as duas janelas estavam cerradas, mas sentia-se fora o sol faiscar nas vidraças, escaldar a pedra da varanda; havia o silêncio recolhido e sonolento de manhã de missa; uma vaga quebreira amolentava, trazia desejos de sesta, ou de sombras fofas debaixo de arvoredos, no campo, ao pé d’água; nas duas gaiolas, entre as bambinelas de cretone azulado, os canários dormiam; um zumbido monótono de moscas arrastava-se por cima da mesa, pousava no fundo das chávenas sobre o açúcar mal derretido, enchia toda a sala dum rumor dormente.

Esse parágrafo descreve como Luísa se sente; trancada em seu mundo, sem muita perspectiva de futuro. Quem leu, sabe que esse sentimento é que dá base para todo o livro. Enfim, Eça de Queiroz era um Gênio da descrição; portanto, sigam-no os bons.
5. Escolha um texto científico.
Escolha um texto científico e monte uma tabela sobre os pontos abordados. Foque nas ideias principais e veja como o autor estabelece a ligação das ideias para a conclusão do texto, o velho: A + B = C.
Essa prática ajudará na formulação de futuros textos mais críticos. Pois, além de te fornecer novos pontos de vista, você poderá utilizar a estrutura das conclusões em textos futuros. Não pense que na escrita tudo deve ser novo e original.
6. Entreviste uma pessoa.
Monte uma lista com perguntas, como naqueles cadernos de enquete do colégio, sem ser infantil. Tente fazer a lista como se cada resposta fosse um gancho para outra pergunta. Esse mecanismo ajuda tanto o entrevistado quanto os leitores, mantendo uma sequência lógica e temporal do que está sendo dito e lido. Teste com seus familiares, amigos e com você mesmo!
7. Seja um observador.
Muitas histórias surgem de um simples acontecimento, como por exemplo, uma bola sobre o telhado, um tombo na rua, uma batida de carro, uma chuva de sapos. Enfim, tudo que está ao seu redor faz parte de uma história, portanto, se quiser ser um bom contador de histórias, seja, antes de tudo, um bom observador. Observe o mundo, as pessoas, os animais, os comportamentos humanos e o balanço das árvores. Deixe sua mente fluir naquelas histórias e volte pra casa repleto de novos acontecimentos e histórias para contar.

Algumas dicas podem parecer um puro exercício de meditação; outras, um exercício chato e monótono. Mas, quem disse que escrever histórias é fácil? 😉
Fonte: <http://www.folhetimonline.com.br/2011/09/26/dicas-escreva-melhor-7-dicas-para-escritores/>. Acesso: 22/09/2015.