sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Adolescência midiática e tecnológica

Em uma cidade interiorana, há mais de vinte cinco anos, um adolescente tinha sua vida marcada por grandes aventuras com pouca influência ainda da tecnologia e da mídia. Tomar banho de açude, passear pela cidade caminhando, reunir-se com a família para refeições e histórias, andar de bicicleta, pescar, jogar bola no "campinho", entre outras atividades que hoje podem ser chamadas de "sem graça", mas era o que envolvia a vida.

O que é possível lembrar em termos de tecnologia era a empolgação com alguns filmes, as vídeo locadoras eram consideradas a grande atração do momento. O vídeo game (Atari) era grande sensação, rendendo algumas horas de inatividade junto com os filmes. Mas, ainda era possível fazer outras coisas como encontrar os amigos em uma sorveteria, participar das festas dos colegas de aula onde se conversava sem um celular na mão, viajar junto com a família olhando o caminho e assim por diante.

Ao olhar para a adolescência hoje em uma cidade interiorana, percebe-se a tentativa dos pais que viveram a experiência semelhante e que acima foi relatada, de tentar mostrar aos filhos o seu modo de vida adolescente. Algumas iniciativas são muito interessantes, mas outras causam estranheza nos adolescentes. É claro que maior estranheza possuem os pais ao verem seus filhos dia e noite vinculados a um computador, tablet ou smartphone.

As redes sociais virtuais, a mídia e o mundo da internet, ao mesmo tempo que trouxeram informações diversas, distantes e amplas, também trouxeram a desconexão de um modo de vida para a conexão com outro. Os filmes com suas propostas de valores e cultura, bem como toda tecnologia trouxeram um novo modo de vida para as crianças, adolescentes e adultos que ainda tentam se adaptar.

Nesse processo o adolescente de hoje virou adulto e o adulto virou adolescente. E aqui, o adolescente-adulto (pais) é aquele que tem dificuldades de processar e compreender este novo modo de vida em que o adulto-adolescente (filhos) tem pleno domínio. Um exemplo é a virtualização da emoção, ou seja, os sinais, símbolos e signos que constituem uma nova linguagem cibernética e que comunicam emoção, emoção esta que nem sempre é percebida pelos adolescentes-adultos. Consequentemente, a sua compreensão acerca desta linguagem (que não "olho-no-olho") parece fria e superficial. O desdobramento desta nova linguagem com cifras emocionais, com sua forma própria de emoção, são os inúmeros namoros virtuais que começaram a surgir e que aos poucos começam a ser aceitos por alguns, mas nem tanto ainda por outros.

Assim, estamos diante de um duplo desafio. Os adultos-adolescentes (filhos) cibernéticos que precisam recuperar um pouco mais o contato com o real e os adolescentes-adultos (pais) que precisam compreender um pouco mais deste modo de vida virtual. Para qualquer um destes, o caminho da resistência é prejudicial já que gera um conflito de geração, então o jeito é continuar aprendendo a viver uns com os outros, com experiências antigas e novas.

E por mais saudoso que possa ser, aquela antiga adolescência não voltará mais, pelo menos não plenamente, pois irresistivelmente estamos diante da adolescência midiática e tecnológica. O desafio de aprender e ensinar precisa assim, viver o hoje e agora, buscar junto aquilo que é melhor. Isso significa muita paciência, amor, companheirismo e motivação para experimentar algo novo e diferente.Pais e filhos em uma grande e nova aventura evitando extremos, mas compartilhando vida.

Ederson Malheiros Menezes

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

SEDUÇÃO como instrumento de construção de um modo de vida


Sedução - Imaginação Sociológica

Eu sei que quando se lê a palavra "sedução" imediatamente o pensamento é direcionado para a área da sexualidade. No entanto, não é exatamente o sentido principal que guia esta reflexão.

A palavra pode fazer referência tanto ao ato de seduzir como o de ser seduzido, pode também ser entendida como atração ou algo que gira no campo do irresistível. No entanto o seu sentido mais negativo envolve o fato de alguém aproveitar-se de outra pessoa ou ainda, envolver a questão do suborno. Existem ainda outros sentidos, mas estes é que guiam o assunto.

A sedução nem sempre é algo predominantemente consciente. Isso, porque existem muitos valores que nos são implantados e que nem sempre os escolhemos como critérios para definir o gosto. Se perguntássemos o que é irresistível para as pessoas hoje, uma série de gostos, práticas, modos de vida e comportamentos estariam na lista. E estes, com certeza revelariam que não se constituíram apenas por escolhas deliberadas e conscientes.

A sedução está nas propagandas, nas telenovelas, filmes etc. Mas também, nos discursos que já assimilaram um modo de vida imposto e que não se sabe, não se quer ou não se consegue resistir. Chega a ser quase insuportável ouvir tagarelices daqueles que são dominados pela vida plástica.

A sedução está freneticamente presente na chamada segunda intenção. Esta segunda intenção é quase não mais distinta num mundo em que os valores desaparecem como critério de vida. Aqui se afirma o ceticismo do campo político em relação aos valores, momento em que o que de fato vale é o domínio e exercício do poder, isso não importando os meios para atingir tal fim.

Quais seduções envolvem a vida hoje? A sedução do jeitinho brasileiro, a sedução da erotização desenfreada, a sedução da supremacia sobre o outro, a sedução de um modo de vida individualista, a sedução da alienação, a sedução da busca do prazer insaciável, a sedução do consumismo, etc.

A decepção da sedução se dá exatamente no ponto em que realidade da vida se apresenta e que desvenda as ilusões. Quando a consciência acusa acerca do caráter, quando pelo vazio do apenas erótico desperdiçou-se o compartilhar da vida, quando se percebe que a vida é sozinha no meio da multidão, quando não se vê mais tempo oportuno para viver de verdade e quando a inegável dor da vida, que faz parte dela se apresenta. Sim, a sedução tem muito a ver com a ilusão.

Não sei se é possível viver sem sedução, mesmo que em alguns casos seja considerada por seu segundo nome: utopia. No entanto, o deixar-se ser seduzido precisa ser consciente para sonhar com algo bom, significativo e não atormentador e traiçoeiro. Assim, seduzir para viver bem não pode significar violar e nem iludir, mas sonhar junto.

Certamente há muitas coisas pelas quais se deve ser seduzido: o abraço, o sorriso de uma criança, o beijo do cônjuge, a euforia de alguém que está contente, o bem estar comum, etc. Para isso lutamos com a realidade, pois vale lutar.

Seduzir e ser seduzido é algo sério. Talvez você possa pensar mais sobre isso.

Ederson Malheiros Menezes (licenciado em sociologia, especialista em educação e mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social)