sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Quem disse que a colonização acabou?

QUEM DISSE QUE A COLONIZAÇÃO ACABOU?

A história do Brasil demarcada pela colonização, forjada por processos de exploração da vida humana em todos os sentidos, com todas as suas atrocidades, parece não ser suficiente para conter posturas autoritárias, fundadas especialmente no poder econômico e em um mandonismo, ainda eugênico e arbitrário. 

Se estou falando de política? Sim, infelizmente da má política que acontece inclusive no contexto religioso. Certamente não será novidade, desde que, se considere os primórdios da instituição religiosa, o fato de existir coações e coerções gestadas pela força de mamon, e que perverteram vidas que tiveram a grande oportunidade de percorrer O Caminho.

A verdade ou a ideologia própria? A verdade ou aquilo que lhe favorece? A verdade ou o status? A verdade ou a razão própria – dogmatizada pela tradição? A verdade ou a defesa da superioridade eugênica? A verdade ou o prazer do poder? A verdade ou a manutenção da opressão para permanecer opressor? A verdade ou o orgulho? A verdade ou o falso evangelho que abriga interesses próprios? A verdade ou a falsa piedade? A verdade ou as estratégias da carne? A verdade ou as artimanhas das sombras?

A experiência de uma piedade que dá remédio genérico e ao mesmo tempo produz as doenças terminais consegue iludir muitos. A experiência que chora as desgraças e ao mesmo tempo conserva elas apenas para experiência dos outros é terminantemente hipócrita. A experiência da humildade de vitrine para manutenção do prazer oculto é uma aberração humana.

Então aparecem os vicários, alguns por tradição, outros por carisma, mas também os por tirania legal. É especialmente destes últimos que se fala. O tirano legal, autorizado e potencializado pelo poder econômico, forjado em uma cultura de superioridade. O sustentador da pirâmide que só tem duas classes, o topo ocupado pelo tirano e o resto da pirâmide, ocupado pelos peões da servidão.

No processo do mandonismo, somente a vontade do tirano prevalece, de forma que a vontade da servidão, isso se existir, não pode ser outra, a não ser promover a glória do tirano.

O orgulho eugênico não é de pertencer ao quadro de uma criação singular, mas de ser o próprio criador e sustentador de uma existência que está acima de qualquer verdade.

Para se obter as migalhas do tirano será necessário vender a sua alma, falsear a verdade, participar das artimanhas, concordar com seu governo, promover sua ideologia, cultuar sua superioridade, aceitar servi-lo até quando lhe for útil e inesperadamente inútil para morrer de forma besta. Faça-se como os primeiros habitantes desta terra, que ao perceber a desgraça para lhes tirar a vida, que chegava junto às embarcações, só podiam fugir desatinados para o meio da selva – fujam incivilizados. Quem disse que a colonização acabou? Estou a correr...

Ederson Malheiros Menezes (teólogo, sociólogo, especialista em educação e mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social).