segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Sobre outros lixos e refugos

Lembro-me de alguns móveis que faziam parte de nossa casa. Eles eram duráveis, não eram feitos para serem substituídos, mas para durar uma vida toda. Não recebiam tanta ênfase estética, mas sim de utilidade. Raramente um móvel era descartado, antes disso, consertado muitas e muitas vezes. Não era incomum que fosse repassado por gerações.

Mas tudo isso mudou, os móveis que foram repassados por várias gerações são valiosíssimos hoje, e constituem apenas uma categoria entre tantas outras que definem os padrões estéticos flutuantes. Alguns poucos, tornaram-se colecionadores dessas "relíquias" antigas. Mas a grande maioria, prefere o descartável, como tudo que passou a fazer parte da vida. Com um pouco de esforço é possível lembrar que até mesmo as garrafas eram reaproveitadas, mas hoje são descartáveis.

Nessa "nova" (e novo aqui, certamente não quer dizer algo melhor) forma de relação descartável que envolve a vida, criou-se certo prazer na descartabilidade para aquisição do "novo". A questão é tão fortemente desenvolvida que algumas pessoas chegam a adoecer quando não conseguem descartar algo. A vida fica sem sentido se não tiver algo "novo".

A alegria inconsciente produzida pelo "novo" é também inconsequente. Uma alegria tonta, entorpecente que destitui os sentidos da vida. Não deixa perceber que toda mercadoria se torna obsoleta de um dia para o outro em uma sociedade de consumo excessivo. Basta surgir um produto com uma nova cor que o outro torna-se antiquado e passa a ser desejo descartá-lo para saciar um outro desejo, o desejo do "novo".

Decorrente ainda deste processo atropelado é o fato de que o juízo não se estende apenas para os objetos, mas também para os seus usuários ou proprietários. Então, se o seu celular está "velho", você também está ultrapassado. E se o seu celular, da ótica de outros precisa ser descartado, mas você não quer, então terá que assumir o fato de que você possivelmente será descartado com ele. Talvez isso possa ser observado de forma ainda mais intensa nos adolescentes e jovens, de maneira que aceitação exige "novidade".

Não quero me estender mais, mas vou provocar e desafiar mentes mais aguçadas a pensarem neste processo descrito de forma microssocial para ser expandido para um aspecto macrossocial. Neste último sentido como bons sociólogos já tem observado, está havendo descarte em massa de "lixo" humano. De tal modo que a palavra refugo encontra um sinônimo em refugiado.

Ederson Malheiros Menezes

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Processo Civilizatório

Este é um daqueles assuntos intrigantes da sociologia. Com forte conexão com a área da psicologia, a temática provoca inúmeras reflexões acerca da constituição daquilo que denomina-se ser humano.

Como conceito que exige um contínuo desenvolvimento e atualização teórica, o processo civilizatório desnuda aparatos sociais usados com aparente neutralidade para manipular não apenas atos, mas histórias de vida.

Ederson Malheiros Menezes

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Análise Social e o desafio da neutralidade científica

Estou pensando sobre as formas de interpretação da vida e o condicionamento destas interpretações aos interesses de quem interpreta. Fica difícil fazer análise social tendo em vista os interesses que existem por parte daquele que faz a análise. Por isso muitos teóricos já assumiram a impossibilidade de neutralidade nas análises sociais. Além disso, toda análise depende dos fundamentos ontológicos e epistemológico do cientista. Então acalme-se e faça sua análise da forma mais consciente possível. Ok!