POLITICAGEM, PERTURBAÇÃO EMOCIONAL E CONSCIÊNCIA CAUTERIZADA
Poucas coisas me perturbam emocionalmente de forma tão intensa como a politicagem.
Deparei-me com esta realidade na interioridade humana, na família, nas instituições e na ágora política - na esfera da vida do ser humano, dentro dele e fora dele.
O jogo dos interésses! Da justiça reconfigurada para além do bem realmente comum.
É importante sintetizar que politicagem resulta em perturbação emocional profunda!
Sabe aquela sensação de erupção vulcânica nas suas emoções... é disso que estou falando.
No exercício da inteligência socioemocional sou obrigado a questionar a razão de tamanho incômodo.
Em um primeiro instante, fico feliz por estar incomodado, pois problema maior seria ver a injustiça e a politicagem acontecendo e ainda ficar indiferente - isso seria muito preocupante!
Porém, de tempos em tempos, crio um distanciamento da esfera política - uma tentativa de exercitar a saúde emocional no sentido contrário - como fuga mesmo!
É claro! Este distanciamento existe muito mais como atitude de ignorar, do que de fato afastar-se - o que é impossível em um mundo cada vez mais articulado por politicagens em diferentes esferas.
O "jeitinho" cresce, está em constante transformação e em processo intenso de aculturação - ninguém escapa, de modo que há apenas duas opções: perturbar-se ou cauterizar-se.
Se você acompanhar alguns atores políticos, a percepção da corrupção na sua jornada será visível.
Muitos começam bem intencionados, mas no decorrer dos anos a cultura da politicagem, forte e devoradora, estende seus tentáculos, anestesia suas prezas e injeta lentamente seu veneno que vai sendo consumido e assumido como líquido vital da ação política.
Uma das primeiras evidências aparece logo no discurso, que depois é reforçado pelos fatos.
Existem muitas obras que falam sobre corrupção, mais do que o ato em si, estou pensando no que acontece dentro do ser humano antes do fato corrupto - corrupção da humanidade, dos princípios e valores.
E para refletir sobre um fragmento desta corrupção, existe um conceito que precisa ser referenciado. Estou pensando em "consciência cauterizada".
Ele é relevante em sua relação com a politicagem e perturbação emocional acerca da injustiça.
Afinal, só quem não tem a consciência cauterizada é que se perturba e se enche de indignação.
Entenda indignação como raiva justa (considerando o grande desafio que é definir o que é justo).
Lembre-se que estas experiências, são experiência da vida, de nossa própria cultura - não dá para fugir delas.
Como seres humanos, somos fruto e criadores de nossa cultura - cultura que comporta a politicagem.
Para alguns, aqueles que se adaptaram a ela, foi necessário cauterizar a consciência com mecanismos diversos.
Os cauterizados, passam então a ser reconhecidos como exímios bem-adaptados.
Para outros, os mal-adaptados, sobra tão somente a perturbação emocional - a raiva justa, a indignação.
É certo que, no momento em que escrevo este texto estou emocionalmente perturbado.
Por que? Politicagem!
Porque a minha consciência ainda não foi e, espero, nunca venha a ser cauterizada.
Então, viva a boa perturbação emocional, a raiva justa, a indignação!
Ederson M. Menezes (teólogo, licenciado em sociologia, administrador em formação, especialista em educação, MBA em gestão de pessoas e mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social.)
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