BRUXARIA CIENTÍFICA OU SOCIOLOGIA?
Dentre os sentidos possíveis da palavra "bruxaria" está o de "acontecimento extraordinário, inexplicável, que se atribui a forças sobrenaturais. (dicio.com.br)".
Nunca havia imaginado a relação de tal conceito com a sociologia e de certo modo instigou minha atenção.
[...] Várias tentativas foram - e são - feitas para colocar barreira entre a sociologia e o mundo social. Tem havido - e ainda há - uma constante fetichização da metodologia, uma ênfase na "neutralidade de valores", o desenvolvimento de uma linguagem "científica" especializada e esotérica destinada a confundir os não iniciados, a adoção da parafernália do profissionalismo - tudo isso funcionando como uma barreira entre a sociologia e o mundo que ela investiga. Dessa maneira, a sociologia torna-se uma espécie de "bruxaria" científica que assume uma existência própria muito distante e isolada dos seres humanos que ela pretende descrever, investigar e analisar. (Michael Hviid Jabobsen e Keith Tester).
Me parece que esta "bruxaria científica" não é um problema exclusivo da sociologia, mas sim de várias áreas do conhecimento.
A busca pelo inusitado, pelo revolucionário, pelo mais tecnológico e assim por diante tem conduzido iniciativas que se distanciam e se perdem até mesmo de seu objeto de estudo.
A justificativa destas iniciativas segundo os próprios autores supracitados é considerar uma atividade social "singularmente livre do poder, do autointeresse e do preconceito.
No entanto, apesar da relevante justificativa, o resultado tem sido uma irrelevante sociologia.
O diagnóstico final é que "a sociologia precisa ser resgatada de si mesma".
O remédio que já vem sendo ministrado há algumas décadas chama-se "imaginação sociológica". Afinal, "privada de imaginação sociológica, a sociologia só pode fornecer informação; e, na visão de Mills, a quantidade de informação que o mundo dispõe já é maior que sua capacidade de lidar com ela".
Meus próprios limites limitam observar todas as implicações possíveis. Entretanto, a observação acerca de qual sociologia se pratica creio ser relevante para o momento e também para as próximas gerações.
Estamos diante de uma sociologia da sociologia que desafia os pensadores e a própria compreensão e experiência da vida.
O simples, reconhecidamente mais humanitário parece-me ser uma boa retomada metodológica. Afinal, voltar pode não significa retrocesso como alguns pensam.
Não é uma defesa dos clássicos, mas um convite para refazer os exercícios de uma forma talvez diferente.
Então, desejo a você uma incrível imaginação sociológica!
Ederson Malheiros Menezes (Licenciado em Sociologia e Mestre em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social - educacaosociologica@gmail.com)