sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Sete pecados capitais cometidos contra a infância

Médico enumera sete pecados capitais cometidos contra a infância

Criado em 08/07/15 12h40 e atualizado em 14/07/15 16h42
Por Bruna Ramos - Portal EBC Fonte:TEDx Talks
Daniel falou sobre o assunto no evento TEDx Laçador, realizado em Porto Alegre, em junho. Segundo o palestrante, as crianças brasileiras vêm sendo muito maltratadas pela sociedade. "Além de o país não oferecer boas condições de saúde, moradia, educação e segurança, os pais e cuidadores das crianças têm cometido pecados ao longo de sua criação", afirma.
O médico enumera:

1 – Privação do nascimento natural e do aleitamento materno

“A cultura da cesárea faz com que as mulheres acreditem que o parto normal deve ser a cesárea. Que o parto normal é nocivo, doloroso, perigoso. Isso gera diversos malefícios para as crianças.” “Da mesma forma acontece com o leite materno. A mulher quer amamentar sua filha, mas (muitas vezes) em dois meses esta criança está desmamada. Isso vem, em grande parte, por causa da indústria, que faz propaganda pelo nome que dá às suas fórmulas: “premium”, “supreme”, e a propaganda que ela faz com o médico.” 

2 – Terceirização da infância

Por causa da falta de tempo dos pais, que têm que trabalhar para sustentar a família, as crianças estão sendo deixadas em creches ou com babás. “Perdemos o que é mais precioso na infância: o convívio com os filhos. Convívio é aquilo que nos dá a intimidade, a capacidade de estar junto, o amor, a sensação de estar cuidando de alguém, a sensação de conhecer profundamente alguém”.

3  - Intoxicação da infância

Também pela falta de tempo, é mais acessível trocar a comida tradicional brasileira por uma alimentação rica em gordura, sal e açúcar, que vem da comida congelada e industrializada. “Obesidade e diabetes estão explodindo na infância”.

4 – Confinamento e distração permanente

As crianças passam até oito horas por dia conectadas em aparelhos eletrônicos. Esse confinamento impede que elas tenham um momento de consciência, de vazio, de tédio. “O tédio é fundamental na infância. Porque o tédio e o vazio são berço daquilo que é mais importante para nós, a criatividade e imaginação. Nós estamos amputando isso dos nossos filhos.”  

5 – Mercantilização da Infância e Consumismo Infantil

Assistindo muita televisão durante o dia, as crianças são massacradas pela publicidade, por valores de consumismo. “E essa publicidade é covarde, explora a incapacidade da criança de distinguir fantasia de realidade, explora o amor dela por personagens e instiga nela valores como consumismo obscessivo, hipervalorização da aparência, a futilidade e coisas piores”.

6 – Adultização e erotização precoce

“Existe uma erotização que usa a criança de 7, 8 anos para vender produtos de moda, uma erotização baseada no machismo, na objetificação das meninas e das mulheres, na valorização excessiva da aparência.”

7 – Entronização e superproteção da infância

Para compensar a ausência, muitos pais tornam-se permissivos e acabam perdendo a autoridade sobre seus filhos. Mas a criança precisa de gente que conduza a vida dela. “A gente sabe que a importância dos limites do não são formas fundamentais de amor. A gente precisa dar para os nossos filhos, mas a gente tá perdendo a capacidade. Em vez disso, a gente se interpõe entre as experiências dos filhos e do mundo fazendo justamente que eles não tenham experiência da vida e portanto não desenvolvam mecanismos de lidar com a frustração, com a dor e com a dificuldade. E certamente o mundo vai entregar para eles mais tarde.”
Como forma de enfrentar estes pecados, Daniel propõe uma solução que passa por mudanças em apenas dois fatores: tempo e espaço. No caso do tempo, o médico sugere que os pais estejam presentes na vida do filho em pelo menos 10% do tempo em que estão acordados. Em uma conta geral, isso representa 1h40 por dia de dedicação aos filhos. Em relação ao espaço, a orientação é estar perto da natureza. “O convívio com o espaço aberto vai afastar a gente das telas, vai reduzir o consumismo e o materialismo excessivos, vai promover o livre brincar (que, por sua vez, vai gerar inteligência, humor e criatividade), vai gerar convívio entre as famílias, vai promover o contato com o ar, o sol e o verde e vai reduzir todos os problemas da infância.”
Assista à palestra na íntegra:



Fonte: <http://www.ebc.com.br/infantil/para-pais/2015/07/medico-enumera-sete-pecados-capitais-cometidos-contra-infancia>. Acesso em: 28/08/2015.

Ampliando a compreensão acerca do "jeitinho brasileiro"

Os sentidos do “jeitinho brasileiro” em nossa cultura
O “jeitinho brasileiro” é usado para definir tanto as situações positivas como as negativas: a criatividade ao resolver conflitos e até ao falarmos de corrupção. Na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, pesquisa apresenta as diversas nuances dos sentidos que o “jeitinho brasileiro” pode ter na cultura brasileira e mostra outras possibilidades de se expressar diante de tais situações.
Pesquisa apresenta diversas nuances dos sentidos para o "jeitinho brasileiro"
“A ideia é mostrar a existência de outras palavras e expressões que trazem uma maior precisão para o entendimento de um determinado fato”, destaca a autora do estudo, a professora de inglês Valquiria da Silva Moisés. As palavras que ela sugere são: solidariedade, sobrevivência, habilidade, criatividade, flexibilidade, improvisação, charme, simpatia, malandragem, prevaricação, hipocrisia, flexibilidade moral. Ela ressalta, no entanto, que há uma linha muito tênue entre essas palavras e, por isso, fica difícil estabelecer uma ordem muito rígida entre elas.
A pesquisadora se baseou na representação gráfica criada por Livia Barbosa, antropóloga que propõe uma sistematização do “jeitinho brasileiro” a partir de um continuum que vai do favor (positivo), passando pelo jeito (que pode ser positivo ou negativo) até a corrupção (negativo). Valquíria ampliou essecontinuum e identificou palavras que poderiam se encaixar nessa sistematização.
Para isso, ela fez um levantamento de vários trabalhos nas áreas corporativa, administração, ciências sociais, letras, literatura, comunicação e semiótica. Foi realizado um estudo léxico (conjunto de palavras usadas em uma língua ou em um texto) levando em conta a semiótica discursiva francesa do linguísta Algirdas Julius Greimas, que “tem o texto como seu objeto e procura explicar os seus sentidos, isto é, o que o texto diz, e os mecanismos e os procedimentos que constroem esses sentidos”, explica Valquíria. A pesquisadora também selecionou músicas, textos e até fatos históricos sobre o tema.
Do favor à corrupção
Dentre os textos analisados estão a crônica Moça deitada na grama, de Carlos Drummond de Andrade, o conto A carteira, de Machado de Assis; um artigo do jornalista Clovis Rossi sobre fato ocorrido na Holanda, em jantar oferecido pela rainha Beatrix ao então presidente Lula (Jeitinho não basta); e um fato relatado em uma palestra pelo filósofo Mario Sergio Cortella (Linha de produção). Já as músicas incluem Adoniran Barbosa (Despejo na favelaAbrigo de vagabundos); Ismael Silva (Antonico), Gabriel, o Pensador (BrasaPega ladrãoRap do mensalão) Detonautas (Ladrão de gravata); MV Bill (Falcão); Gilberto Gil (Toda menina baiana); Luiz Gonzaga (Daquele jeito); Roberto Carlos (Jeito estúpido de amar); Braguinha (Vai com jeito), Toquinho (Castigo não); Chico Buarque (O que será?), Rock Roach (Jeitinho brasileiro), entre outras.

Como fato histórico, a pesquisadora cita uma passagem da Segunda Guerra, quando a Força Expedicionária Brasileira (FEB) estava na Itália, na cordilheira dos Apeninos, junto com os soldados americanos. Todos sofriam com a neve, o frio intenso e a chuva, mas ocorriam muito mais baixas entre os americanos do que de brasileiros. “Os brasileiros forravam as botas com folhas de jornal e, com isso, padeciam menos. Já os americanos ficavam esperando alguma solução vinda dos seus superiores e padeciam mais, apesar de estarem habituados às baixas temperaturas”, explica. Este “jeitinho” pode significar sobrevivência, improvisação ou criatividade. Ou todas elas.
Na escala entre favor e corrupção, Valquíria aponta a música Antonico como um exemplo de favor (solidariedade): “Ôh Antonico vou lhe pedir um favor / Que só depende da sua boa vontade / É necessário uma viração pra o Nestor / Que está vivendo em grande dificuldade”. No outro extremo, o da corrupção, está Jeitinho brasileiro (flexibilidade moral): “É tão fácil se fazer de injustiçado / Quando é você que está sendo explorado / Mas se estiver com o poder na mão / É o primeiro a fazer uso da exploração”.
Representação gráfica que vai do favor à corrupção, ilustrada por meio de músicas, fatos reais e crônicas e que ajuda a explicar as várias faces do "jeitinho brasileiro"
Brazilian little way
Segundo a pesquisadora, o “jeitinho” já foi traduzido para a Língua Inglesa como “ability”, “work something out”, “find a way round”, ou mesmo “Brazilianjeitinho”. Os jornais ingleses The Guardian e Financial Times já utilizaram as expressões “Brazilian way” e “Brazilian litlle way”. Já o antropólogo Roberto DaMatta propôs o “clever dodge”. “Mas são expressões que não abarcam todos os sentidos”, adverte Valquíria.

Ela completa lembrando que o “jeitinho” não é privilégio brasileiro. “Encontramos algo semelhante em vários outros países”, diz. Ela cita como exemplo as palavras trinkgel, na Alemanha; bustarela, na Itália; speed money, na Índia; backsheesh, no Egito; mordida, no México; vizyatha, na Rússia; chtara, na Argélia; palanca, na Colômbia; pituto, no Chile, e guaperia, em Cuba.
A dissertação Do jeitinho brasileiro ao Brazilian little way: uma leitura semiótica foi apresentada em setembro de 2014, na FFLCH, sob a orientação da professora Elizabeth Harkot-de-La-Taille.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Mais informações: email valmoises@gmail.com, com Valquíria Moisés

Fonte: <http://www.usp.br/agen/?p=217518> . Acesso em: 28/08/2015.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A PÁTRIA EDUCADORA - Manifestação em Panambi RS



Panambi (RS), 03/08/2015.

Eles ocuparam a esquina da praça central da cidade durante a manhã e tarde. Soavam apitos, exibiam cartazes e agitavam bandeiras. Era a tentativa de chamar atenção da população sobre a "PÁTRIA EDUCADORA". A interrogação no final indica a reflexão necessária, pois em um país marcado por campanhas políticas que utilizam a bandeira da educação intensamente, agora se vê em uma repetida contradição.

Mas o questionamento não é apenas para "PÁTRIA EDUCADORA", é também para o cidadão que ao andar pelas ruas é convidado para um exercício de empatia, ou seja, para colocar-se no lugar dos atores da educação. Então, eles perguntam para você cidadão, você que deixa seus filhos para serem educados, e os entrega na certeza de que as pessoas (educadores e educadoras) os receberão com competência e dignidade. Quem você quer que cuide e eduque seus filhos enquanto você trabalha pagando impostos absurdos no país da corrupção?


Por incrível que pareça, em meio a manifestação, uma educadora testemunhou que na parte da manhã houve manifestações contrárias a iniciativa dos educadores que estavam na rua tentando mostrar o que acontece na "PÁTRIA EDUCADORA". Neste confronto, foi dito aos educadores "vão trabalhar". Mas é claro que esta declaração não significa apenas isso, ela significa o direito que alguém tem de permanecer servindo a um sistema opressor, manipulativo, corrupto e perverso que destitui os maiores valores da vida - o valor do humano. O enunciado só revela a efetiva servidão voluntária a que se submeteu a cidadania condicionada. Provavelmente era alguém atrasado para pagar seus impostos sem saber como fazê-lo.


Um outro cartaz denuncia uma política "sagrada", em que os interesses particulares da política brasileira revelam sua miséria.

Então é possível concluir que ainda existem muitos elementos "sagrados" e que são venerados conscientemente por quem tira proveito maquiavelicamente disso e por aqueles que veneram sem saber por que o fazem. A manifestação de uma fé política alienada. Mas se os elementos desta sagrada política assim funcionam, então pra que uma "PÁTRIA EDUCADORA". Não precisamos de informação, nem de manifestação, basta ter fé sem obras.

Ainda bem que apesar das limitações, timidez e constrangimento, alguém ainda tenta, mesmo que em uma esquina da cidade, por algum curto período de tempo, fazer você refletir um pouco mais. Para manter e ampliar isso, será necessário fé com obras. Mas isso é muito comprometedor para muitas pessoas, será necessário muita fé, fé consciente e fé atuante - não é coisa para gente atrasada para pagar tributos que serão usados posteriormente não sei aonde. Afinal, o importante é pagar o preço.

Uma manifestação simples, que deve adquirir sua eficácia na própria categoria que a faz. Uma manifestação educativa, que elucida as realidades da nação brasileira e que deseja construir junto a justiça tão almejada.

Quer participar? Faça de forma consciente e digna, conservando o respeito e cooperando para educar o Brasil. Afinal de contas, depois de pagar as contas, ainda teremos que arregaçar as mangas para construir a "PÁTRIA EDUCADORA".

(Ederson Malheiros Menezes, teólogo e sociólogo)