A JORNADA DO AMADURECIMENTO POLÍTICO
Ederson Malheiros Menezes *
Vou tentar sintetizar aqui minha experiência com a política.
Política é um tema meta morfo.
E, com isso, quero dizer que o tema política fica se transformando dentro das interações e épocas da vida, se constituindo em realidades diferentes na experiência, desde a repugnância da corrupção ao idealismo do bem comum.
Creio ser importante fazer uma retrospectiva de minha jornada que julgo de amadurecimento político.
Nos primórdios de minha adolescência, meu pai era cabo eleitoral (um líder de campanha política) e interagia intensamente com diversos personagens políticos.
Meu pai foi uma primeira referência de uma pessoa envolvida com a política e ele realmente acreditava poder fazer o bem para as pessoas, que de fato fez muitas vezes, sem necessariamente ser político.
Então, nesta época íamos a grandes ajuntamentos de pessoas, os chamados "comícios" onde pessoas entusiasmadas ouviam discursos cheios de promessas e transformações - e, por incrível que pareça depois de mais de quarenta anos, nada mudou.
Nesta época minha consciência política se reduzia ao enfadonho tempo de esperar para aquela reunião interminável terminar, ou seja, era uma chatice.
As participações mais empolgantes se davam nas carreatas de vitória, um buzinaço cuja satisfação circunstancial era determinada por estar dentro de um veículo que passeava pelas ruas chamando a atenção com sons, gritos e bandeiradas, como forma de representar o "nós vencemos".
A satisfação era muito mais por estar em um pódio do que por qualquer real conquista. Era um vencedor que não sabia exatamente qual era sua conquista.
Em minha juventude, comecei a compreender mais a política a partir das observações de vivências de meu pai, especialmente, suas frustrações ideológicas - principalmente decorrentes de pessoas falsas e sem ética alguma, com interesse único no poder e benefícios para si.
As frustrações com as pessoas e as politicagens levou meu pai ao distanciamento político e consequentemente, a me tornar o que pensava ser possível, um apolítico.
Então, foquei no estudo e no trabalho, cumprindo sempre que possível minhas obrigações políticas reduzidas ao voto, quase como um "uni-duni-tê, salamê, minguê, ... o escolhido foi você".
A política sempre me incomodava, pois me reportava a tristeza e frustração de meu pai em confiar nas pessoas e ser decepcionado.
Comecei a enfatizar que era uma pessoa apolítica e durante um bom tempo fiquei com esta posição.
O que mudou com o tempo?
Primeiramente, comecei a duvidar da possibilidade de ser uma pessoa apolítica, pois era impossível não deparar-se com algo na vida que não tivesse sido definido politicamente.
Depois, percebi no trabalho, especialmente no exercício da liderança que omitir-se de espaços de liderança tinha um preço a se pagar. Se você é uma pessoa bem intencionada e se omite, alguém mal intencionado poderá ocupar aquele cargo ou função e você terá que se sujeitar por causa das estruturas organizacionais.
Esta consciência fez com que eu me envolvesse politicamente em lideranças organizacionais - o que tornou-se frustrante de igual modo no futuro.
Comecei meus estudos em sociologia e então foi que minha consciência começou a expandir-se sobre o embate político pelo poder.
Até então, julgo que minha compreensão era algo muito limitado.
Comecei a entender a força dos discursos, e a possibilidade de eles servirem não exatamente ao que diziam servir.
Comecei a vivenciar o dilema de ter que escolher não o melhor candidato, mas como se diz o "mal menor", porque não via mais como real o discurso do bem comum.
Uma das maiores contribuições para minha consciência política veio do mestrado que fiz em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social.
Foi só após esta jornada que entendi como o sistema político opera em todos os setores e consequentemente atinge a vida das pessoas e todas as esferas.
Senão tudo, quase tudo é politizado.
No mestrado, através da pesquisa para dissertação, estudei a cultura ética de líderes do setor público e da esfera civil.
Neste período, enfrentei ameaças durante a pesquisa e recebi aquilo que pode-se chamar de tentativas de corrosão da minha ética.
Por fim, o que percebi de forma geral é que existem muitas pessoas que não fazem a mínima ideia do quanto suas vidas estão dependentes da política.
Pior ainda, não fazem ideia do que seja a política para além do sua experiência de votar, que por um lado ainda é um dos poucos recursos minimizados para ação política dos sujeitos - um dos poucos que eles conhecem e se limitam obrigatoriamente a fazer.
Amadurecer politicamente pode ser compreendido como uma jornada de vida, vida que se transforma em grande parte sofrendo com os interesses particulares e que deveriam ser públicos.
Minha dissertação de mestrado termina com um conceito em latin: "cui bono?" que significa "bem para quem?"
O sentimento é de incredulidade generalizada pela existência de um sistema corrupto, formado por pessoas corruptas, principalmente, porque mesmo compreendendo o que significa ser público, ainda assim, cuidam apenas do bem particular.
Então, minha contribuição política hoje vem de minha imaginação sociológica, através da qual me proponho a despertar a compreensão das pessoas para um exercício político mais honesto e justo.
Para que as pessoas sejam vistas como seres humanos e não como fantoches, como escravos de manutenção do poder e privilégios indevidos.
Entrar em um debate polarizado de política? Eu? Não! Há muito tempo deixei as infantilidades de lado.
* Ederson Malheiros Menezes - Mestre em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social, MBA em Gestão de Pessoas, MBA em Caoching, Esp. em Psicologia Positiva, Esp. em Neuroeducação, Esp, em Gestão de Projetos Ágeis, Esp. em Docência no Ensino Superior, Esp. em EaD. Bacharel em Administração, Licenciado em Sociologia, Bacharel em Teologia. E-mail: educacaosociologica@gmail.com