quarta-feira, 23 de abril de 2014

Uma brevíssima análise (sociológica) e pessoal do ocorrido em Três Passos – RS


As barbáries e atrocidades vistas nos canais de comunicação eram motivo de espanto nas cidades, vilas e comunidades interioranas. Cresci e vivi a maior parte de meu tempo em uma delas, próximo cerca de 30 km de Três Passos – RS, cidade que visitava rotineiramente. Percebo hoje com maior clareza as influências sofridas no período da adolescência e juventude e que instigavam maneiras de pensar e viver, que alimentavam sentimentos conturbados e promoviam a vida plástica, de vitrine, com marcas de ambição. Não é difícil recuperar lembranças sofridas na pressão social e de classe que na juventude era marcada (e ainda marca) na simples possibilidade de dirigir um carro – a promoção e realização de pertencer a uma classe “superior” (mesmo que isso fosse apenas status), que podia tudo, inclusive fugir da polícia conforme se via nas belas apresentações dos grandes atores cineastas.

Mas a pergunta que não quer calar em meu interior é como pode uma pessoa interiorana ter uma identidade tão violenta a ponto de virar um caso da mídia nacional? Refiro-me ao caso desta “família” da cidade de Três Passos no RS, que conforme anúncios jornalísticos deixam implícito, mataram uma criança de 10 anos (filho dele).

Fui colega do Leandro Boldrini no ensino fundamental (se não me engano 6ª ou 7ª série) e ao ter convivido com ele num mesmo contexto, recuperando lembranças de “guri” como dizem os gaúchos, não consigo imaginar por ter ele se mantido nesta região quais as influências teriam sido advindas dela própria para que neste presente, seu caráter pudesse de tal forma configurar-se.

A questão me fez pensar sobre as influências da globalização – principalmente num caráter midiático e tecnológico de construção social da violência, influências culturais, comportamentais, ideológicas e porque não dizer cosmológicas – que cultivam a formação de uma identidade violenta. Afinal, atrocidades humanas não tem mais localização geográfica como se observava acerca das pequenas cidades interioranas em relação as grandes metrópoles. A violência está junto, é semente que cresce como erva daninha em qualquer quintal.

No mundo de ganância predominantemente econômica, da promoção da corrupção em face as amarras da justiça, constitui-se espaço para que tipo de formação, caráter e postura humana? Logicamente, que isto não justifica a questão, e nem deve assim fazê-lo, esquecendo-se de que a vida é marcada por opções pessoais e que outras pessoas com as mesmas influências fizeram escolhas nobres. No entanto, isto coloca a forte possibilidade destas influências não gerenciadas, mas recorrentes, estimularem outros valores, outro caráter e consequentemente outras atitudes como estas narradas neste caso.

Não consigo ver a situação apenas como uma questão pessoal, o que como já dito, sem excluí-la de maneira alguma. Mas instiga-me as influências sociais hoje cada vez mais globais e próximas, tão próximas, acessadas no simples toque de um botão.

Aqui não justifico ou acuso a ninguém, pois não é a proposta desta reflexão, mas é inevitável que o alerta seja soado e promova ações humanas mais concretas por todos nós no sentido de verificar realidades subversivas que envolvem a vida gerando tristezas – e não apenas verificar, mas agir na desconstrução das mesmas. Caso contrário, podemos continuar nosso pranto esperando o fruto destas e outras influências negativas nas próximas gerações. Será violência de violência.

Ederson Malheiros Menezes

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