Páginas

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Desafios da sociedade contemporânea



A capacidade crítica evidentemente não é uniforme, muito pelo contrário, ela é desigual. E não um desigual equilibrado, mas um desigual que conserva multidões sem condições de percepção dos rumos do mundo. Além disso, o grupo mínimo com capacidade crítica está vendido em grande parte, em outra parte, se debate em conflitos intermináveis e sem solução, e ainda outros, ocultam-se sem esperança, e por fim ainda há os que fazem seus próprios negócios.

Os riscos em relação a vida continuam a ser fabricados todos os dias, de forma inconsequente. E a expectativa de sujeitos autônomos desaparece em tramas sociais caducadoras com interesse. Da consciência dos excessos à pretensa, porém não interessante prática moderadora. A aceleração rítmica dos processos da vida esgotam a reflexividade e exaurem as forças. O eixo tecnológico, motor de fluxos constantes, “metamorfoseiam” a existência sempre incompreendida.

É a chamada cibercultura, com implicações incontáveis e ao mesmo tempo imprevisíveis e aparentemente infindáveis. Para alguns, o diabo, para outros a única ainda possível esperança – mesmo que não se saiba exatamente para qual existência.

A experiência da vida cada vez mais íntima agora é compartilhada, mais precisamente e cada vez mais, vendida, a rede mercadológica da subjetividade. Ver o futuro parece desgraça e realidade dos sonhos impossíveis. Crise é uma das palavras mais complexas deste tempo – de forma que a maioria só a compreende a partir da barriga que dói de fome – infelizmente.

Qual a resposta? Ninguém sabe, mas você pode/deve ajudar a construí-la urgentemente… afinal, já passou faz tempo do apelo… caso não tenha percebido…

Boa reflexão…

Ederson M. Menezes

terça-feira, 4 de julho de 2017

Você é TOP?

Primeiro olhe os vídeos abaixo e depois leia o comentário acerca deles para compreender esta brevíssima análise.




Olhando um comentário nas redes sociais vi a palavra "TOP" e resolvi compreender um pouco mais sobre esse assunto "TOP".

Na área da comunicação, a expressão é um recurso para chamar atenção do público - uma forma de dizer que algo é bom ou superior.

Ao procurar por definição em um dicionário OnLine, acabei me deparando com o primeiro vídeo acima indicado. Neste primeiro vídeo há uma pessoa tentando explicar o que seria a palavra "TOP". Se for observado, o entendimento desta pessoa traz a palavra "TOP" para o âmbito individual, ou seja, o "TOP" que ela se refere não precisa ser algo social, apesar das referências apontarem para personalidades socialmente reconhecidas. O exemplo usado é acerca da casa em que se mora, sendo algo "TOP" para quem a possui.

Então, a palavra "TOP" conjuga-se em termos sociais e individuais para atender a necessidade de ser parte do mundo "TOP".

No segundo vídeo foi feito um remix do primeiro. Como poderia se imaginar, este foi muito mais apreciado pelos internautas. Claramente, a proposta carrega certo sarcasmo contrastando as personalidades envolvidas. Esta atitude indica de certo modo a forma como as pessoas lidam com as diferenças sociais. Por um lado desejam, por outro se ajustam, e ainda, há aqueles que fazem o remix da situação.

O anseio de ser "TOP" está nos que já são "TOP" e nos que almejam de algum modo conquistar esta condição. Mas o que as pessoas realmente querem quando desejam ser "TOP"? A resposta está em algumas necessidades básicas como atenção, pertencimento, melhor condição econômica, realização pessoal, etc. E quando isso não se materializa, a fuga da realidade obriga encontrar uma subcultura "TOP", ativada pelo pertencer a categoria "TOP" sem ser "TOP" social. Cria-se um mundo próprio em que se possa brilhar. Condição difícil? Sim! E além de difícil, complexa, muito complexa.

Tão difícil realidade e ilusão!

Você é "TOP"? Que tipo de "TOP" é você? Podemos encontrar outras configurações!

Ederson Malheiros Menezes (teólogo, sociólogo, especialista em educação e mestre em práticas socioculturais e desenvolvimento social).

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Sobre outros lixos e refugos

Lembro-me de alguns móveis que faziam parte de nossa casa. Eles eram duráveis, não eram feitos para serem substituídos, mas para durar uma vida toda. Não recebiam tanta ênfase estética, mas sim de utilidade. Raramente um móvel era descartado, antes disso, consertado muitas e muitas vezes. Não era incomum que fosse repassado por gerações.

Mas tudo isso mudou, os móveis que foram repassados por várias gerações são valiosíssimos hoje, e constituem apenas uma categoria entre tantas outras que definem os padrões estéticos flutuantes. Alguns poucos, tornaram-se colecionadores dessas "relíquias" antigas. Mas a grande maioria, prefere o descartável, como tudo que passou a fazer parte da vida. Com um pouco de esforço é possível lembrar que até mesmo as garrafas eram reaproveitadas, mas hoje são descartáveis.

Nessa "nova" (e novo aqui, certamente não quer dizer algo melhor) forma de relação descartável que envolve a vida, criou-se certo prazer na descartabilidade para aquisição do "novo". A questão é tão fortemente desenvolvida que algumas pessoas chegam a adoecer quando não conseguem descartar algo. A vida fica sem sentido se não tiver algo "novo".

A alegria inconsciente produzida pelo "novo" é também inconsequente. Uma alegria tonta, entorpecente que destitui os sentidos da vida. Não deixa perceber que toda mercadoria se torna obsoleta de um dia para o outro em uma sociedade de consumo excessivo. Basta surgir um produto com uma nova cor que o outro torna-se antiquado e passa a ser desejo descartá-lo para saciar um outro desejo, o desejo do "novo".

Decorrente ainda deste processo atropelado é o fato de que o juízo não se estende apenas para os objetos, mas também para os seus usuários ou proprietários. Então, se o seu celular está "velho", você também está ultrapassado. E se o seu celular, da ótica de outros precisa ser descartado, mas você não quer, então terá que assumir o fato de que você possivelmente será descartado com ele. Talvez isso possa ser observado de forma ainda mais intensa nos adolescentes e jovens, de maneira que aceitação exige "novidade".

Não quero me estender mais, mas vou provocar e desafiar mentes mais aguçadas a pensarem neste processo descrito de forma microssocial para ser expandido para um aspecto macrossocial. Neste último sentido como bons sociólogos já tem observado, está havendo descarte em massa de "lixo" humano. De tal modo que a palavra refugo encontra um sinônimo em refugiado.

Ederson Malheiros Menezes

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Processo Civilizatório

Este é um daqueles assuntos intrigantes da sociologia. Com forte conexão com a área da psicologia, a temática provoca inúmeras reflexões acerca da constituição daquilo que denomina-se ser humano.

Como conceito que exige um contínuo desenvolvimento e atualização teórica, o processo civilizatório desnuda aparatos sociais usados com aparente neutralidade para manipular não apenas atos, mas histórias de vida.

Ederson Malheiros Menezes

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Análise Social e o desafio da neutralidade científica

Estou pensando sobre as formas de interpretação da vida e o condicionamento destas interpretações aos interesses de quem interpreta. Fica difícil fazer análise social tendo em vista os interesses que existem por parte daquele que faz a análise. Por isso muitos teóricos já assumiram a impossibilidade de neutralidade nas análises sociais. Além disso, toda análise depende dos fundamentos ontológicos e epistemológico do cientista. Então acalme-se e faça sua análise da forma mais consciente possível. Ok!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Programa de índio pegando onda - férias 2017

"E no entanto – como colocou Cornelius Castoriadis – o problema da condição contemporânea de nossa civilização moderna é que ela parou de questionar-se. Não formular certas questões é extremamente perigoso, mais do que deixar de responder às questões que já figuram na agenda oficial; ao passo que responder o tipo errado de questões com frequência ajuda a desviar os olhos das questões realmente importantes. O preço do silêncio é pago na dura moeda corrente do sofrimento humano. Fazer as perguntas certas constitui, afinal, toda a diferença entre sina e destino, entre andar à deriva e viajar. Questionar as premissas supostamente inquestionáveis do nosso modo de vida é provavelmente o serviço mais urgente que devemos prestar aos nossos companheiros humanos e a nós mesmos" (Z.B. 1999).

Agora vamos para a prática...

"programa de índio"

Certamente você já ouviu ou usou a expressão "programa de índio". Normalmente usada de forma negativa ou pejorativa, ela retrata uma forma crítica em relação a algo de que não se gosta, porque retrô ou limitado. 

A expressão surgiu em minha mente depois de sair de férias e pegar um congestionamento que durou cinco horas, cinco horas para percorrer doze quilômetros. Mas, no mesmo instante, refiz o questionamento articulando o pensamento de que um programa de índio, possivelmente à sombra e beira de um rio seria muito melhor do que ficar trancado dentro de um carro por cinco horas em um calor escaldante, programa então, de "homem civilizado". 

Interessante perceber que depois de vencidas as expectativas do modernismo ou pós modernismo tem muita gente se voltando para uma vida "programa de índio" de verdade. Querem sossego, contato com a natureza e a tranquilidade aniquilada pelo ativismo selvagem da vida moderna.

Não tem como deixar de pensar em nosso processo civilizatório que define parâmetros de qualidade de vida segundo o mercado, o lucro e ignora o próprio humano em suas amplas necessidades existenciais para além do ludibriamento exploratório.

Ultimamente estou mais interessado em programa de índio, em aprender com eles, ou reaprender a viver.

"Pegar a onda"

Na beira da praia com a família, a caçula de três anos que havia feito um buraco na areia, pediu para a mana de treze anos para ela ir "pegar a onda". Ela não estava dizendo para que sua mana fosse surfar, e sim, para que buscasse um balde d'água. A caçula havia aprendido que a água do mar era uma "onda". Então, mana, vai "pegar a onda" e traz aqui para encher o buraco com a "onda".

O contexto estava sugerindo consensualmente um convite para surfar, mas na imaginação de uma criança apenas a descrição do denominado - água para encher um buraco na areia.

Isso ilustra claramente a dinâmica do desenvolvimento humano e sua relação com a linguagem. E a questão sociológica de como se mantém essa unidade social ganha uma dimensão questionadora da realidade. A coesão social precisa de uma linguagem comumente aceita, decodificada de uma mesma forma, sendo o processo civilizatório o processo pelo qual se constituem/instrumentalizam linguagens ideologizadas, que só poderão ser superadas pelo indivíduo, tendo em vista que o sujeito é o padrão daquilo que se deseja ou se encontra denominado socialmente como "necessário".

Quem diria que "programa de índio" e "pegar a onda" poderiam se encontrar sociologicamente para descrever e criticar processos da vida. Férias sociológicas também!!!!

Muito mais pode ser percebido, desde as influências sociais que permeiam a linguagem e observação sociológica, mas isso fica para outro programa e outra onda, num outro dia.... kkkkk

Ederson Malheiros Menezes